AFINAL, O QUE TEM POR TRÁS DISTO?



Saindo de uma loja de roupa no centro da cidade, esbarrei com uma mulher muito bonita, loira, traços agudos e marcantes no rosto.

Destas mulheres que parecem terem sido talhadas pela capacidade, vigor estético e único de um mestre escultor, chamado Aleijadinho, e muito diferenciada destas bonequinhas que se parecem com a Barbie, todas iguaizinhas e pasteurizadas.


Uma mesmice!

Tipo de mulher que inspira algo mais do que tomar um cafezinho ou marcar um almoço para a próxima semana, levar flores ou chocolates à noite.

Desculpei-me pelo esbarrão ela sorriu e eu senti aquela sensação de calor na ponta das orelhas, o rosto esquentando e todo o resto iniciando um inevitável processo de endurecimento, inapropriado.

Afinal, sentar onde?

Homens correm estes riscos. Às vezes ou sentam ou têm que colocar qualquer coisa na frente, bem ali, onde mora o nosso amigo de todas as horas.
Com aquele sorriso escancarado para mim, motivei-me a perguntar:

-Trabalha em quê?

-Analista de mercado financeiro, mas já estou meio entediada e estressada com tanto números, riscos, perdas e ganhos - respondeu com cara de cinderela ,já esperando a carruagem virar abóbora.

Então, vendo aquela avenida de insatisfação aberta na minha frente, ousei fechar o sinal das preocupações dela e disparei:

-Que trabalhar comigo?
Tenho um escritório de consultoria aqui pertinho, e preciso de uma analista.Mas o trabalho é tranqüilo – olhando inconveniente para aquela separação entre um seio e outro, que provoca um sulco mais profundo no colo da mulher.

Nossa como eu gosto, muito, mas muito mesmo, disto tudo!

Então, ela parou de rir e falou como executiva:

-Mas, o que existe por trás disso?

Então, eu absolutamente, movido pelo mais fulminante reflexo condicionado repeti:

- O que há por trás disso?

Uma indagação pode se tornar uma afirmação óbvia.

Que coisa interessante e instigante! Com certeza daria uma bela obra literária.
E enquanto falava só reparei, depois, que também instintivamente, me afastei um pouco dela e olhei acintosamente para aquelas nádegas, que marcavam de forma mágica, saliente e sensualíssima o seu vestido, de um tecido leve, fino e preto.

E meio confuso e sem maiores conteúdos lógicos para continuar aquela explicação sobre o tal emprego, repeti, como um cachorro querendo morder seu próprio rabo:

-Por trás disso?


Lógico que ela percebendo, voltou a sorrir e desfechou aquela frase que é mais comum que bala pedida:

-Vocês homens são todos iguais...

E seguramente, por mais de duas horas com ela, sentado num barzinho super aconchegante, tentava prova-la que eu era diferente, que eu era o “cara”, e ela só repetia num tom ironicamente, adorável:

-Sim, eu acredito, sim, sim...

Este é o grande “barato” da mulher, pois ela sabe, que ele sabe, que ela está sendo gentilmente crédula, para não estragar o enredo daquele samba que já ouviu antes, tantas vezes e joga o jogo para não prejudicar o futuro da uma profícua relação.


Agora eu pergunto: Estas mulheres não são maravilhosas, generosas , compreensivas, colaboradoras, coadjuvantes, parceiras, amigas...e verdadeiras mães?





E entre uma bebidinha e outra ela se levantava e ia ao toalete.

Então, ao vê-la de costas ficava pensando comigo mesmo, que ela só podia estar me gozando quando perguntou:

-O que tem por trás disto?

Porque, afinal de contas, só tinha .

Era só colocar um pouco de fantasia, imaginação e pronto. Eu via tudo, como era!