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A síndrome do rejeitado é um fato indiscutível. Este tipo de carência afetiva dói mais do que cálculo renal. Você nunca sentiu?Torça para não ter um. A falta de amor é pior do que um carro com os dois pneus arriados. Um só é fácil. Você troca o furado pelo estepe e vai para o borracheiro. Dois pneus, no entanto, dá uma mão de obra desgraçada.
Parece que não terá solução. A mesma falta de solução que persegue as pessoas que vivem esmolando um agrado, um abraço, um beijo ,um afago, um sorriso, mesmo que estes sejam falsos, interesseiros, diplomáticos, formais ou ensaiados.
Eles fazem tudo para aparecer.

Alguém pode imaginar crueldade maior? Solidão maior? No mundo de hoje, encontramos muito destes seres humanos, verdadeiras ilhas, cercados de picaretas, trombadinhas, estresse, desemprego, desamor e solidão por todos os lados.
Ele tem dois grandes aliados: a televisão e o celular.Acreditem as pessoas falam com elas mesmas no celular.Fingem que tem um outro, na linha.Já ganharam até estátua em praça pública. 
Só o fato das pessoas pensarem que elas estão falando com alguém, alivia-lhe a sensação de isolamento.

 A síndrome do rejeitado, não tem idade. Tem sofrimento. Preste bem atenção: ele não pode ver uma senhora carregando embrulho que se oferece. Se for muito grande, inventa uma maneira de ajudar. Os cegos ficam até contrariados com ele, porque para demonstrar excessiva generosidade os atravessa a rua, para lá, e para cá, diversas vezes. Em muitas ocasiões os cegos sequer queriam atravessar a rua. Esse cara com síndrome de menor abandonado, torce para que no ônibus em que viaja, pare para entrar  um idoso, uma grávida, uma mãe com criança de qualquer tamanho, para ele poder dar um salto da poltrona e dizer bem alto:
- ”Sente-se aqui”.
Verdadeiro cachorro adestrado.

Um cidadão prestativo, educado, generoso e atencioso. Pense bem: quem não gostaria deste cara, repito?
No entanto, quem não está gosta dele é ele mesmo! O portador da síndrome do rejeitado, quando encontra alguém que lhe conte sobre as sua mazelas doenças e infelicidades, vai às lagrimas diversas vezes. Morde os lábios trêmulos de incontida emoção, esfrega as mãos, diz, “Não é possível”, ”vai melhorar” e “Deus é pai”, dezenas de vezes. 
E começa então a ensinar muitas simpatias e orações. Transforma-se em um verdadeiro místico, esteja onde estiver.Abre os braços.Abraça o infeliz interlocutor.Estende as mãos para o céu em plena via pública e começa a orar, falar línguas estranhas, enfim derrama todo o seu potencial de curandeirismo.Ele quer salvar. Ele precisa ser bom. Tem que demonstrar seu imenso interesse em encontrar soluções. Ser aceito. A síndrome de maior abandonado devora-lhe as vísceras! Transforma-o num duende, num gnomo de jardim. 

Ele faz qualquer negócio para que você perceba sua presença. É capaz sair andando nas calçadas, provocar esbarrões e trompaços só para ter a singular possibilidade de pedir desculpas, repetidas vezes. Se for um esbarrão numa bolsa de supermercado que contenha ovos e eles se quebrarem, enlouquecerá de raiva e oferecerá os seus próprios em holocausto por aquela bárbara, grosseira e indesculpável atitude. Quando vê um cachorro indeciso para atravessar a rua, grita desesperadamente, inventando os mais diversos nomes, para ver se acerta o verdadeiro daquele cão, que como ele também perambula pelas ruas sem carinho e amor. Vai atrás do cachorro, Fala com voz de critica e autoridade para que o animal não atrevesse a rua, que não seja irresponsável, tenha amor à vida.Grita para o cachorro e olha para os lados. Se alguém estiver olhando, aí ela vai à loucura.Fica entusiasmado.Já tem público. Banca o guarda de trânsito, pede para os carros parem.Se desgraçadamente toma uma porrada de um caminhão e cai rolando no asfalto quente da rua, ao ser atendido por populares, certamente exclamará:
- “Não foi nada não gente. Só algumas poucas fraturas. Coisa à toa. Valeu. Salvei o cachorro. Valeu”.


E ali, quase entrando em estado de coma fica atento ao que dizem à sua volta. Ele precisa de reconhecimento e exaltados elogios. Por isso, olha atentamente para a boca dos curiosos, pois sua audição já está prejudicada pelo atropelamento. Não tão prejudicada assim, que não possa ouvir com profunda decepção o comentário daquele jovem:
- “Tremendo babaca, idiota, Zé mané, arriscar a vida por causa de um vira - lata”. 

Ele se sente,então, à beira do precipício, pobre coitado!