NINGUÉM SEGURA!




Augustina é destas mulheres imprevisíveis que, sempre nos pega de surpresa, nos piores e mais indesejáveis momentos.
Nunca fez recall, mantendo por esta razão todas as suas peças originais de fábrica.
É sábia como os mais eruditos filósofos gregos, os quais refere-se com a maior intimidade tratando Sócrates de amigão e Aristóteles de gente boa.
Esta intimidade de Augustina com a mais fina flor da filosofia grega esbanja uma perspicácia única e exala por todo seu corpo, além de uma fragrância imbatível de sensualidade e inteligência, também, aquela certeza de que, um homem para ser feliz a seu lado, basta tocá-la como fez aquela crédula ao puxar as vestes de Cristo, curando assim, todas as suas enfermidades.
Por esta razão eu a agarro compulsivamente, faço do seu corpo um verdadeiro exercício de leitura em braile, pois, fico cego na sua presença que me enleva,estimula, me levanta... Isso, levanta mesmo! E sem nenhum sentido dúbio, por favor.
Se ela estivesse no céu seria o mais brilhante cometa com aquela sua cauda incendiária e, caso nascida no mar, seria um exuberante e multicolorido coral, das profundezas abissais oceânicas e ainda bem que, está em terra firma ao alcance das minhas mãos.
Quando chove enlouqueço com aquele odor inconfundível de terra molhada, encharcada, transbordante, uma forma de ela querer ser uma cascata para juntar-se ao meu rio revolto e num só desaguar, por entre margens largas juntar a sua na minha. Ficou explicito?
Creiam que Augustina vive sempre molhadinha, só para mim!


Nossos diálogos poderiam compor livros variados, sobre extensas facetas do cotidiano e, por conversarmos horas intermináveis, somamos lições de vida que se acumulam neste alguns anos que estou ao seu lado e, de maneira privilegiada, como se eu, tivesse me apoderado do segredo do cofre do Banco do Brasil.
É verdade, companheiros, quer que eu minta?
Nosso último diálogo, em uma instância calorífica das mais tórridas temperaturas, quando nos hospedamos no Bangu’s Resort Fire e eu a suplicava para que não saísse do quarto, foi marcada por filosofia pura e aplicada.
Disse ela:
-Lógico que vou sair, estou sufocada, preciso de gente, ar, movimento, vou correr, não vivo sem isso!Reagiu Augustina com a certeza de que: “Sim, ela podia”!
-Não vá, afinal, eu sou o quê?- desesperado tentei impedir que aquele exército de sensualidade atacasse com maiô preto e corpinho de bailarina-menina, os hóspedes.
-O que você é? Quer que eu responda?
-Por favor- supliquei
-Bem neste momento, um gripado e indecoroso tussígeno homem, compulsivamente, catarrento e coberto de remédios. E quer saber? Já fui... vou me banhar e ficarei molhadinha para me refrescar.


-Mais molhadinha? – Tentei ensaiar um sub-reptício elogio
-Engraçadinho!
- E se eu sentir saudade, amor?
-Telefona, use seu celular, ora bolas!
-Ok.
E em poucos minutos, um aterrador sentimento de perda invadiu-me e liguei.
-Alô Augustina, meu amor, está me ouvindo, bebezinho?
-Alô, está me ouvindo, seu chato? Ela repetia do outro lado, quase aos berros.
-Esta ouvindo?- insistia eu com acessos de tosse e espirros compulsivos, destes que saem as dezenas de forma incontrolável e inundam o ar com perdigotos indesejáveis.
-Mais ou menos. Nossa você está um bagaço, homem!
-Não sou eu é esta  porcaria de celular, vou trocar por um mais moderno, que funcione e tenha um sinal forte e potente!
-Amor, quer saber uma coisa?
-Fala querida.
-Você está muito pior que, o seu celular, pois,seus funcionamentos vitais estão precários, e você acaba de me dar uma grande ideia.
-Qual querida? - perguntei desconfiado.
-Estou pensando, pelas mesmas razões em trocar você por um homem mais novo e com sinal forte com aquela potencia, toda. Nossa, até me arrepio!
-O que?- Reagi com o amor-próprio ferido
E do outro lado apenas aquele maldito robô da operadora telefônica, repetia a cada nova ligação minha: “Deixe seu recado, na caixa postal”.