TEIA DE ARANHA.


Os relacionamentos humanos, por vezes, são formatados por verdadeiras teias caprichosamente, elaboradas pelas aranhas-rainha do comportamento social.

Cada uma, e a seu jeito, procura no local certo, tecê-las da formas mais apropriada e com um único objetivo: pegar ou vingar-se do incauto.

Caiu na teia, não sai mais. E as aranhas até que sabem as estratégias corretas, os melhores métodos e como aliciar sua futura refeição. Em todos os setores da vida social é preciso ter muito cuidado, é preciso ter muita cautela, principalmente nas empresas contemporâneas, nas quais a competição e confundida com conflito.E não tem nada há ver estes dois distintos processos sociais.

Na competição o objetivo é impessoal: eu quero passar no vestibular. E estudo para isto.Já o conflito, personaliza um rival e só consegue atingir suas metas destruindo, em volta.

Tem até aquela historinha da aranha que conversava com uma borboletinha garbosa multicolorida, a cerca do perigo que o camaleão representava para ambas.

Próximo à teia, a borboletinha esticava o pescoço para ouvir melhor a aranha, sentada bem no meio do seu paraíso de fios pegajosos e dizendo em tom de amizade:

-Olha, borboletinha querida, é preciso tomar muito cuidado com o camaleão.Ela não é confiável-
-É mesmo?- espantou-se a singela borboletinha.

-É isso mesmo.O camaleão tem uma língua enorme e certeira Ela a arremessa em cima da gente e...acabou.Lá vamos nós toda cheia de gosma para dentro da sua goela.
-Nossa, minhas asas estão até tremendo - dizia apavorada a borboletinha.

-Eu me admiro muito, você não saber disto.Chega mais pra cá, borboletimha que eu vou lhe contar um segredo terrível...- insistia a aranha, confidente.

A borboletinha tão depressa, quanto curiosa, subiu na teia e imediatamente a aranha lhe deu um abraço quebra ossos...
Aturdida e sem entender nada, a borboletinha espavorida, questionava:

-Mas aranha, nós não estávamos juntos, contra o camaleão? E agora você faz isso comigo?

-Ao que retrucou a aranha, do alto da sua sabedoria:
-Em matéria de sobrevivência não existe amizade, só interesses, sua bobinha.
E lá se foi à borboletinha pro brejo.

Nos relacionamentos sociais as teias de aranha funcionam como um meticuloso ardil feminino,por exemplo, de vingança por danos sofridos, para apanhar aquele tipo de homem machão, metido a pegador, o rei da cocada preta, bronco, violento, que gosta de dar uns trancos na sua mulher, metido a passar todo mundo na cara, enfim ,um verdadeiro Tiranossauro do amor romântico.


As mulheres às vezes deixam-se subjugar aos desejos imediatistas deste tipo de homem em extinção, aos seus rompantes de cafajeste da década de setenta, verdadeiros galos de briga,acreditando que aquele ciúme demonstrado pelo marido desde o inicio de seu casamento é prova de amor inconteste e não um desejo mórbido de trancafiá-la em casa exigindo, absoluta e dedicação integral aos filhos e ao lar e anulando-a, para qualquer outra pretensão na vida.





Poucos anos depois, lá está ela embrutecida, emburrecida, inculta e submissa ao dinheiro do supermercado e todas as outras despesas, sob a tutela do patrão.Um zero a esquerda, à direita, em cima e embaixo.
Então aquela mulher com cheiro de gordura durante o dia e perfume barato à noite, e que a última vez que tinha ido ao cinema foi no lançamento de “E o vento levou”, incorpora a perspicácia da mulher aranha, decidida a voar mais alto.




Ao chegar em casa e começar a dar as ordens de praxe à mulher, depauperada, com a alta estima mais baixa que tanque de combustível de carro pobre, cansada de humilhação e autoritarismo do machão irrecuperável, ela aproxima-se daquelas orelhas do seu marido, cheias de fiapos de cabelo para fora, e sussurra no seu ouvido:
-Benzinho, temos que tomar muito cuidado com este vizinho da casa da frente.Ele me olha de forma estranha...

-Estranha? Irrompe o cavalão, praticamente babando como um touro no cio, ou seja, uma síntese de todos os bichos enfurecidos. Eu vou quebrar a cara dele!


-Não, por favor, eu não tenho certeza, estou confusa,só fique prestando atenção no jeitão dele...

E durante anos, aquele marido não tirou o olho do vizinho da casa da frente.

Mal sabia ele que, na verdade, sua mulher tinha puxado o bobão para a sua ardilosa teia de aranha, pois desviara a atenção do seu marido, daquele que na verdade era o seu verdadeiro e eterno amante, o vizinho sim, mas da casa ao lado!