OS PATINHOS DELINQUENTES.


A vida familiar é o leito seguro por onde corre o caudaloso rio da segurança afetiva dos humanos. Ali eles procriam, comem pizza, vêem televisão, criam filhos e outros animais.

Os outros animais contentam-se com alimentação e demonstração de afeto. Alguns passam à vida dentro de gaiolas, outros miando, eventualmente em cima dos telhados. É o desesperado cio das fêmeas.

Cachorros dormem até ao pé da cama dos seus donos e, alguns mais atrevidos até, no lugar da cama, no qual, deveriam dormir os seus donos.

Outros animais menos cotados são os pássaros, as tartarugas, hamster e coelhos que, por vezes, também, são convidados a compor a grande constelação familiar.

Pulgas, baratas, ratos, formigas, aranhas, lacraias e cupins, além de indesejáveis, são intrusos.

Os pais - pelo ao menos os de antigamente – esforçavam-se para educar e encaminhar os filhos na difícil tarefa de conquistar o mundo e com as suas capacidades.

É aqui, que nos deparamos com grandes contradições.

Reparem bem: os filhos que “nunca deram o menor trabalho” - segundo célebre frase dos pais orgulhosos - seguem suas vidas. Aqueles que empacam nas primeiras páginas das lições da vida, é que se transformam no ácido limão, difícil de ser engolido, são os que, mais atenções recebem do pai e da mãe.

Este é o grande paradoxo da vida familiar!

Quando o bem educado diz aos pais que conseguiu passar para a faculdade de medicina, são festejados por uns quinze minutos de beijos e abraços.Em seguida, o mal educado é acusado pelo vizinho de ter estuprado sua filha, e dentro do quarto dela.

Neste caso passa receber atenção infinita dos pais, com conselhos, conselhos, conselhos e muita babação.

Quando o bem educado apresenta o diploma de médico os pais choram uma meia hora de fortes emoções. Mas lá vem o mal educado, sendo entregue em domicílio pela namorada - de passado sombrio e, futuro temeroso - completamente bêbedo e ainda, com fraturas generalizadas e o rosto desfigurado, conseqüência da última briga naquele maldito inferninho, no qual passa todas as noites.

Aí o filho médico fica com o canudo na mão - sem saber onde enfiá-lo - enquanto os pais passam a dar eternas atenções ao delinqüente de plantão, durantes dias seguidos, até a cura completa!

É assim que a coisa funciona, ou seja: quem não funciona, e que atrai pela vida afora as atenções paternas. São os patinhos delinqüentes.

A mãe pata com suas asas aconchegantes está sempre pronta para acoitar aquele tremendo mau caráter, na desesperada tentativa de ressocializar aquele infortúnio.

É o mesmo que ficar enxugando gelo.

Em todas as famílias, estes ou estas anomalias humanas, verdadeiros insetos intrusos, chamam para si todo aquele caudaloso rio de atenções e outras benesses maternas.

Enquanto o filho bem educado, comportado e responsável chega de carro novo zero quilometro na porta dos pais convidando-os para um passeio inaugural, o mal educado aparece com uma motocicleta roubada, acabando com a paz familiar e transformando a noite num bate boca interminável.

O passeio inaugural fica para a outra ocasião, se o mal educado deixar e não roubar um ônibus, da próxima vez.

Enquanto o filho pródigo telefona para os pais comunicando que deixou de fumar, exatamente, como seus pais tanto pediam, o outro, aquele estorvo consangüíneo, está enfurnado em cima de uma cama quase em estado de coma, depois de fumar quilos de maconha, toneladas de pedras de crack e, com um cheiro de álcool exalando pela boca que só mãe extremada consegue aturar e ainda com aqueles insistentes, lamuriosos e irritantes pedidos de:

- Acorda, meu queridinho, sua sopinha está pronta!

Estas incoerências no seio da vida familiar é que lhe trazem invulgar singularidade entre todas as outras instituições, pois militar desrespeitou a hierarquia: cadeia! Empregado faltou e não avisou: rua!E assim caminha a humanidade.Já deu até filme!

Mas a família e mais emoção do que razão. Pode não ser agradável para os filhos que aprenderam a lição da vida, e que seguiram retos e inarredáveis os preceitos maiores de civilidade, terem que conviver com estas explícitas cenas de injustiças afetivas.

No entanto, em que outro lugar do mundo estes patinhos delinquentes encontrariam uma asa amiga?



Ao contrário do patinho feio da celebre estória infantil que, era sempre o último da fila, neste caso, eles são sempre os primeiros.

Agora que é muita sacanagem, ah, isto é!

22 comentários:

Raquel Reckziegel disse...

Funciona quase que como uma psicologia reversa. Talvez seja uma carência de atenção dos "patinhos feios"...

Talvez os pais achem que, uma vez que a pessoa esteja bem de vida, o filho(a) esteja bem-encaminhado. E param de lhe dar atenção. Um erro comum. Mas é claro que não deveria ser assim. A atenção paterna não pára quando o pintinho sai de debaixo da asa da mãe.
E, é claro, tem alguns pintinhos que demoram mais...

Adorei o jeito com que escreves! Estás nos meus blogs favoritos!

Bruna disse...

Pra variar, quando vi que seu link subiu lá em cima, corri clicar empolgada pra ver qual é o texto da vez!
Maravilhoso, só pra variar!

Acredito em filhos bem educados, que levam palmadinhas de leve de vez em quando para sua educação.
Não em pais que bajulam de certa forma o tempo inteiro, esses patinhos feios que só respondem e não colaboram com sua própria educação.

Conheço muuuita gente assim viu?
E gente bem próxima!!

jac rizzo disse...

Paulo, venho com frequência ler
suas crônicas. Gosto do que vc tem na 'cabeça'! Mesmo quando parece meio malcriado. Sinto em vc, um grande conhecimento da natureza humana!

Grande abraço.

*Por que não podemos ter sua imagem?
Ou uma imagem outra, que lhe agrade?

J Araújo disse...

Perdeste meu comentário!!!

Recebi seu e-mail, infelizmente, as palavras não serão as mesmas; mas eu disse mas ou menos assim: Você desnudou as relações familiares, e isso é o realmente acontece no seio familiar; até de alguma forma levando ao pé da letra a parábola do 'filho pródigo' descrito na Biblia.

Você descreveu com com tamanha precisão que notamos a relação do ser humano e seus 'familiares' como vc mesmo descreve incluindo aí vários tipos de animais que existe muitas vezes nessa relação muitas vezes conflituosa.

Está de parabéns.

Abraço meu amigo!!!!!

Nanda Assis disse...

é muito complicado dificil e extressante educar um filho, eu tenho tres pra educar.

bjosss...
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Juliana disse...

Na minha familia existiu pouca procriação, já que sou filha única, mas muitos animais, desde coelhos, hamster, porquinhos da india, gatos, cachorro, papagaio, periquito, colero, bem-te-vi, tartaruga, jabuti, pônei, galinha... Acho que só!
ahahahahahaahha
Sempre comemos pizza, mas preferimos comida chinesa, ou turca, ou emxicana! ARRRRRRIBAAAAAAAAAAAAAA MUCHACHO!

.: Juliana :. disse...

É bem assim que acontece. Os pais estão sempre presentes, para TUDO. Mas acho que os pais deveriam repensar mais sobre isso, não dá para passar a mão na cabeça a vida toda. Um dia eles se vão e o que vão fazer sem seus pais? Serão obrigados a continuar, pois a vida continua e ela quando quer é bem cruel.
Quando eu tiver meu filho, NÃO VOU FICAR PASSANDO A MÃO NA CABEÇA, DE FORMA ALGUMA, mesmo que isso me corte o coração. Fez algo? ASSUMA.
Quem AMA, educa!

Magnífico texto, como sempre.

.beijos Paulo!

Victor Borba disse...

Vim agradecer pelos elogios lá no meu blog e dizer que também gostei muito daqui. Parabéns por este espaço. Voltarei mais vezes.

Um abraço.

Sheila Ramalho disse...

Venho de uma familia muito grande com muitos irmaos , tios , primos , e seu texto descreve exatamente como acontece ... e impressionante !!!! Texto impecavel !!!!


Abracos!!!!!

:: rita :: disse...

. olá... fui nos seus dois blogs!!! muito legal mesmo!!!

...

p.s.
.
eu não moro em minas gerais, moro em goiás ... =)

abraço!

...

Felipe disse...

hahahaha, cara, eu vivo isso! Pena que nao posso falar muito... Impressionante! Nunca havia parado pra prestar a atenção!
Belo blog também. Obrigado pelos elogios e pelo comentário.
To te seguindo e vamos trocando idéias.

Branca disse...

Excelente texto!

Uma boa palmada na hora certa teria ajudado muito adolescente 'inadaptado' perceber que o mundo não gira em torno do seu umbigo...tem pais que criam verdadeiros monstrinhos, sem limites, sem valores!

Pelos caminhos da vida. disse...

Tem selinho la pra vc.

beijooo

Iêda disse...

É verdade, funciona exatamente assim. Acho que os pais se sentem meio que culpados disso e mimam tanto, mas acabam não enxergando que os filhos "perfeitinho" também precisam de atenção.
beijão e ótimo findi

Menina disse...

Oi Paulo,
Obrigada pelo comentário e agradeço
ainda mais por me dar a oportunidade de conhecer seu (inteligente) blog.. Adorei tua escrita e tuas ideias coesas e bem humoradas.

beijos e volte sempre.

Anonymous disse...

Esta é a história da minha infância, adolescência e juventude, até que eu dei um "basta!" definitivo.

Eu era a filha que não dava trabalho.

Claudia Goulart disse...

Como vc disse, essa situação é um paradoxo!
Acredito que não exite uma regra pra solucionar o problema. Deixar de lado o patinho feio é sacanagem, ficar só com o patinho feio tb.
Então...

Patricia disse...

oi Paulo obrigada pelos comentários em meu blog, é um blog pessoal mesmo! eu sou da bahia e minha família toda está lá. enfim... coloquei vc em minha lista de blogs tbm!! estou te seguindo rsrsrsrsr gostei muito do seu blog...virei sempre!!! Ah!!! aquela foto não é paquetá não. É mangaratiba!!
abraço!!!!

dezertocomz disse...

Educar filho é igual educar cachorro. Pode parecer rude, mas é verdade!
Quando o cachorro alivia a bexiga e/ou intestino no seu tapete e vc briga, berra e bate, ele repete a dose por q afinal "mereceu" alguma atenção.
Se só der atenção quando o ENSINADO for feito, ele aprende que é o melhor a se fazer. Recompensa!
Não vejo caso, de cão ou criança, que fuja a essa regra, exceto em casos de deficiência neurológica e/ou psicológica.

Queria escrever mais, gosto do assunto... Mas comentário gigante ninguém merece.

Gosto dos seus textos. Visite meu blog tbm...
Grande Abc.

Iana disse...

Ola

Vim conhecer novos cantinhos e esbarrei no teu... Que gracinha de lugar é bom para passar horas lendo e deixando a imaginação viajar...

Um beijinhos doce da rosa amiga
Iana!!!

Vivian disse...

...assunto complexo, e existente
em todos os lares.

mas não devemos nos esquecer
que o bom filho por si só
se mantém no eixo,
enquanto outros desprovidos
de juízo que lhes garantam
a existência pacífica na vida,
se não tiveram o olhar cuidadoso
dos pais, se tornarão peso para
a família toda,
quando sabemos que laços
de sangue são eternos, e descartar um espírito doente, é faca de dois
gumes.

logo, o problema é familiar
e não unilateral.

não sei se me fiz entender...

feliz páscoa, menino lindo!

bj

Dona Sra. Urtigão disse...

Ah! Meu caro jovem:
Mas não existe o filho-só-bonzinho, então essa balança, para os cuidadores, balança bastante. Os cuidados são bastante divididos. Se assim não fosse, como teria surgido dali o bonzinho? Já chegou pronto? Então o Distribuidor das Almas é injusto? Distribui desigualmente em desigualdade de condições?
Parece-me mais um desabafo juvenil de ciumes.