A casa é grande.
Fica no subúrbio carioca ,tem jardim,quintal , mangueira,jaqueira ,cachorros, cinco filhos rebeldes e uma turma de vizinhos que à primeira vista se poderia pensar tratar-se de menores infratores, mas que nada, apenas uma horda de meninos e meninas que povoa a casa do casal, mais conhecido na redondeza.
E exatamente, pela imensa casa que habitam, e por permitirem que praticamente a criançada da rua invada seus espaços familiares, transformando aquilo num verdadeiro clube, que eles são muitos queridos por toda a vizinhamça.
O casal trabalha fora e as mães dos sócios daquele imenso parque de diversões ajudam a vigiar aquela tribo ensandecida de pirralhos que vivem entrando e saindo dali.
A mãe dos cinco filhos é a médica veterinária Marta Helena e o pai um conceituado advogado da região que já livrou muita gente de incríveis confusões o Dr.Plinio Sapopemba, de uma tradicional família do bairro.
Ela, muito generosa com os animais não admite vê-los sofrendo nas ruas e ganha dinheiro no seu consultório e faz caridade na rua, onde ao passar por um animal carente ,desnutrido e com cara de menor abandonado, leva para casa,alimenta,cuida da saúde deles e os coloca na rua novamente.
Só que a bicharada, que não é boba nem nada, volta sempre para a casa da veterinária,afinal que não gosta de um aconchego?
Então, temos além de uma quantidade enorme de convivas dos filhos deles, ainda muitos outros animais da casa e convidados fortuitos e inesperados.
Uma balburdia!
Dr. Plínio Sapopemba, numa das causas que ganhou e por ter salvado da falência um próspero comerciante local,além dos polpudos honorários recebidos, mereceu a gratidão do cliente que ainda o presenteou com um quadro de um pintor francês do século dezoito, uma verdadeira raridade e de um colorido maravilhoso e por incrível que pareça, sem um único objeto concreto nele pintado, apenas curvas,borrões,manchas e misturas de tintas de uma beleza deslumbrante.
É a atração dos visitantes que ali aportam e admiram o quadro demoradamente, pela sua beleza de formas absolutamente abstratas e por esta razão, exposto a múltiplas interpretações críticas.
Num sábado ensolarado o casal resolveu pegar o carro e sozinhos dedicarem um dia, a si próprios, longe de filhos,vizinhos menores quase infratores,cachorros , gatos, maritacas com seus berros infernais, e outros bichos.
Um dia do casal e somente do casal.
Ao sair no entanto, a mãe veterinária já com os olhinhos marejados de uma saudade inexplicável reuniu a tropa e recomendou;
-Docinhos queridos da mãe, fiquem quietos, não mexam em nada por favor , em nada entenderam? Nada,nada,nada!
Lógico que entenderam tudo!
À noite ao voltarem a casa estava quase destruída , absolutamente desarrumada e até alguns quadros do Dr. Plinio Sapopemba tirados da parede para servirem de telhado para as casinhas dos futuros arquitetos daquela gang dos quase marginais infantis.
Imagens que fariam até o Cristo Redentor,chorar.
Apavorada ela ameaçou simplesmente espancar todo mundo, mas resolver partir para o diálogo:
-O que vocês fizeram aqui nessa casa? Esta tudo bagunçado, quase destruído, parece que passou um tsumani, por aqui ,seus selvagens trogloditas desumanos.
O filho mais velho usando da prerrogativa de líder ,partiu em defesa da gang e falou:
-Mãe fizemos exatamente o que senhora falou- defendeu-se o representante dos anarquistas
-Eu disse para não mexerem em nada e repeti, nada,nada,nada várias vezes, para vocês não esquecerem e olha como esta essa casa.
-Então mãe, foi a senhora mesmo quem disse quando eu lhe perguntei quando o pai ganhou esse quadro o que ele significava e a senhora disse que aquela porcaria não era nada.
Pô mãe, veja bem, nós nem tocamos no quadro.Não seja injusta, não mexemos em nada.Nada está lá direitinho, exatamente como a senhora pediu e só brincamos com o resto. Nem se lembra do que falou, mãe?
22 comentários:
(risos) Então né...rs
"Docinhos queridos..." hahaha Chamo a minha filha de docinho até hoje!!!
Abraço Paulistanoooo
Ei-lo de volta! Feliz Ano Novo! A alma suburbana agradece ao seu cronista. Voltou com a lingua afiada e o olhar de raio X. Docinhos amargos esses, hem?
Tremenda indigestão.
Eu que nasci no subúrbio do Rio, reconheço a radiografia.
Abraços
Ola!
Mari abreviatura de Maristela rssssssss.
Grata por sua visita, adorei seu blog.
Grande abraço
Hilária a crônica, Paulo!
Adorei a sua descrição do quadro!
Você também me fez rir com seu comentário em meu recanto. Vejo que você tem um excelente humor.
Grande abraço.
PS: Procure-me entre os seus seguidores. Já estou lá. (rsrsrs).
Obrigada pela sua visita!
Muito bom o seu texto.
Abraços cariocas!!!!
Isto sim Paulo é uma delícia que Michel Teló que nada, rsssssssss, com todo respeito, adorei o texto! Não brincar com a mente de uma criança, elas levam tudo ao "pé da letra", ou seja são sempre literalmente corretas. Abraços.
"Docinhos queridos"
Ahhahha.
Você é barbaro!
Que delícia de crônica. Que delícia!!!
Mas, é quase por aí, uma criança falou tá falado! São apenas nossos espelhos.
Como diz o grande Chico Buarque, "a nós que inventamos o pecado, inventamos também o perdão."
Como mãe de duas belas criaturinhas, cobrarei com juros este amor, que contém a ira dos punhos, quando olhinhos doces e queridos nos quebram as pernas, como no desfeixo de seu texto, hahaha.
Amo o que você escreve menino. Bom demais!!!
Adoro essa ironia, esse humor. Comentei de você com minha filha, essa semana, enquanto falávamos sobre esse dom de escrever assim...como você. Ela faz Jornalismo na UFJF e eu a incentivo a escrever, usando esse dom que ela tem também.
Eu citei você prá ela, quando andávamos pela Tijuca(Antônio Basílio) em direção ao Metrô e observavámos as pessoas e suas subjetividades. Disse a ela, que você as percebia de um jeito muito interessante e particular, cheio de humor e que me lembrava - não sei se gosta dele - o João do Rio.
Adoro esse sorriso observador-calidoscópico que encharca seus textos. Feliz 2012!
Amei; vc é d+! parabéns; humor inteligente é de classe.bjs
NADA, NADA, NADA, NADA!
Adorei, começando o ano muito bem, rsrsrsrs...
texto inteligente como sempre, bjs querido, feliz ano que começa para todos nós!
Saudações carioquíssimas
Olá.... Obrigada pela visita, muito bom seu blog...ja to seguindo...
Bjks
Daiana – Dias Melhores para Sempre!
http://daidesiderio.blogspot.com
Excelente teus textos. Rir é bom para relaxar... além de ótima ginástica facial,rs.
Meus parabéns e obrigada pela visita.
Abraço,ALICE
Que delícia de texto, me fez lembrar a casa dos meus pais quando éramos pequenos, rsrs, era assim mesmo.
Vou virar leitora assídua!
Crianças... rs
Adorei seu blog! E volte sempre que quiser ao Ponto Rouge. Seu comentário foi um carinho, obrigada.
beijo rouge
Dani
Paulo,
Sutileza e humor juntos. Além da bela mistura: crianças e bichinhos. Nem os pais aguentam. Terríveis, mas são gracinhas.
Abraços
Lucia Regina
rsrsr... muito bom texto de humor, prezado colega. Me diverti um bocado e me lembrei das minhas próprias cri-onças, hahah Lá se foi um tempo muito dinâmico onde eu vivia perigosamente. Adorei. Beijos voltarei aqui pra ler mais os seus "causos".
Oi, querido
Só agora, configurando meus blogs, percebi q o comentário que deixei no teu blog saiu sob o nome da minha filha A Carolina!! Ela devia ter acessado o blog dela e deixou 'ligado'. Portanto, gostaria que você deletasse o anterior (Ana Carolina), antes q ela acabe comigo..., e deixasse este no lugar! O comentário é meu. Loucuras da poesia!:)
Sigo você também, agora. Personagens deliciosos (até as crianças...)nesta sua '...Não mexam em nada', carioquice pura. Voltarei para as outras e próximas.
abs
Márcia L
www.mulheresdelirantes.blogspot.com
rs.. ela deveria ter dito em tudo.
Adorei todo o texto.
Paulo, obrigada pelas palavras de final de ano, me encantaram.
Beijo meu
Aí como eu estava com saudades de passar aqui e rir um pouco com os teus fabulosos escritos,adoreiii,rsrsrs.
Abraço e uma ótima semana Paulo,=)
Adoro esse tipo de confusão.Diz Arnaldo Antunes: "Tudo cabe na palavra tudo." Eu digo, que se nada na palavra nada.
Abraço Paulo
Pior que eu já vi muitas situações em que a criança dá uma explicação desse tipo pra mãe mesmo.
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