AMANTE ORIGINAL.

                                                 

Aproxima-se o fim de mais um dia de intenso trabalho, e aquele pensamento constante e repulsivo, não lhe saía da mente! Pensava a cada minuto, naquela criatura vil e aterrorizante que deixara em seu lar.
A última noite, em sua companhia, fora a mais cruel e insuportável, e naquele momento resolvera, de uma vez por todas, por fim àquela situação.
Chegando a sua casa, logo ao abrir a porta, deparou com aquela criatura mesquinha, sórdida e provocadora que não lhe dava um minuto de descanso, fazendo-o passar os dias e as noites mais infelizes e atribulados da sua vida.
Resolveu declarar guerra àquela megera, acintosamente deitada em sua cama, como a desafiá-lo, ostensivamente.
Atirou-se à cama para agarrá-la e castigá-la, masculamente.
Ela fugiu, logrou escapar, indo para a sala tentando esconder-se, numa atitude covarde, digna, somente das criaturas inexpressivas.
Ele a seguia furiosamente, tinha de uma vez por todas que acabar com aquele sofrimento brutal, que fazia do seu lar, um cubículo triste e aterrorizador.
Iria espancá-la com o salto duro do seu sapato, daria contra aquela cabeça vazia, para ensiná-la a dor que nunca antes havia conhecido, pois jamais fora homem de bater em ninguém, quanto mais num ser mais frágil como aquele.
Calculou friamente a pancada e mandou brasa, porém mais uma vez, aquela criatura conseguira desvencilhar-se, correndo de um lado para outro como se estivesse zombando da sua virilidade e, finalmente, foi para o quintal. O nosso pobre amigo suava frio por todos os poros e, o cansaço já era uma evidente realidade em seu corpo.
Numa atitude derradeira e louca, resolveu matar aquela coisa, sim matar a tiros. Faria daquele ser, migalhas.
Rapidamente foi ao quarto, abriu a gaveta. Tremiam-lhe as mãos. Apanhou sua arma - um revolver 38, cano curto - e a passos firmes caminhou para o quintal escuro, envolvido na noite fria de inverno. A vitima, ali estava escondida.
Acendeu uma vela que trazia no bolso e colocou-a no chão. Então a luz fraca da vela, descortinou-a encostada a um canto, já agora temerosa, mas nem por isso, menos intragável e repulsiva.
Corajosamente, apontou-lhe a arma. Fez mão firme, pois aquele era o momento mais dramático da sua vida. Mirou-lhe, estrategicamente, a arma, para o seu crânio e disparou por diversas vezes, ouvindo-se as secas detonações das cápsulas. Seguiu – se a morte instantânea da vitima, já agora enlameada e inerte no solo.
Sua cabeça destroçada sob a terra aguada da chuva, que algum tempo caía, como para limpar as horrendas manchas daquele ser, apresentava-se como o quadro final daquela tragédia.
-Livre, estou livre – gritava, histericamente, aquele secular sofredor.
Sim, jamais passaria outras noites em claro por causa daquela criatura.
Lá estava ela destroçada pelos certeiros tiros do nosso frouxo machão, que na linguagem esportiva, dir-se-ia ter acertado bem na mosca, porém, o que não é verdade, pois no caso a mosca era uma barata, ou se quiserem seu nome científico, aqui vai: Periplaneta Americana.

EPITÁFIO:

Barata, do latim, blatta, substantivo feminino, ortóptero onívoro, de corpo achatado e oval, que põe ovos em ootecas (estojo). Pode ser silvestre ou doméstico,e tem hábitos noturnos, segundo o dicionário do Aurélio.
                                                      
                                                     

7 comentários:

Pedro Coimbra disse...

A minha mulher tem pavor de baratas.
Lá em casa o killer sou eu.
Mas não é a tiro, é mesmo à chinelada :))

PAULO TAMBURRO. disse...


PEDRO,

você é de uma coragem indômita! kkkk

Obrigado pela visita e um abração carioca.

Enquanto a chuva cai... disse...


Ainda bem que não era das voadoras... Tenho arrepios só de imaginar.
Divertidíssimo seu conto, Paulo.

Beijinho, querido e obrigada pelo comentário em meu blog.

PAULO TAMBURRO. disse...


POEMAS EM DÓ MENOR,

realmente as voadoras são piores de míssil intercontinental.
Que bom ter gostado!
Um abração carioca e parabéns belo seu blog poetisa.

Manuel Luis disse...

Não me assustam desde que esteja armado com a espuma para baratas. É uma solução e caem logo para o lado, tem validade por alguns meses.
Já faz algum tempo que não passava por aqui.
Fica um abraço.

PAULO TAMBURRO. disse...


MANUEL LUIZ,

espero que não repitas ausência tão prolongada, caso contrário vou te mandar numa época em que não estejas armado com espumas para baratas, algumas centenas delas numa belíssima caixa! kkkk

Um abração carioca.

Manuel Luis disse...

Claro que concordo! Nos mercados precisamos ter cuidado. A fiscalização vai ajudando.
Abraço.