PORQUE EU PRECISO DIZER QUE TE AMO.


No consultório de um consagrado geriatra dois homens enquadrados na categoria da terceira idade conversavam abertamente, sobre as agruras da paumolescência, termo chulo e vulgar aplicado a dificuldade de ereção da preciosa ferrementa de trabaho do homem.

-Você está com quantos anos? - pergunta o coroa com cara de matuto de festa junina, com
os cabelos pintados acaju, quase bronze, as sobrancelhas muito mais escuras que os cabelos e a barba que não combinava, com nenhuma das outras duas cores, um tipo de marrom nervoso, uma cor que não dava a menor confiança para a coerência e tonalidades das cores do cabelo e nem das sobrancelhas.

- Eu tenho 79 – responde o outro de cabeça completamente branca, sem barba nem bigode e com sobrancelhas tipo daquelas que estão dando adeus ao rosto. Apenas uma meia dúzia de pelos retorcidos e esbranquiçados.

-Tenho 8.1

- Oito ponto um.Mas está muito conservado - tenta ser gentil o idoso assumido.

-É que eu amo muito, todas as mulheres!

-Também, ainda está com tudo em cima né?

-Quer dizer, em cima, em cima quem está é a Torre Eiffel, mas eu descobri o segredo
de como me livrar dos meus fantasmas...

-Fantasmas? - inquiriu, a cabeça branca.


-É. Pois, não venha me dizer que você acha que ficar
velho, é uma espetaculosidade, uma benção da natureza, sentir que está endurecendo tudo, mas no lugar errado, endurecendo a coluna, as juntas, os joelhos enfim, e o que tem que ficar duro, mesmo que eventualmente, e disposto ao cumprimento das sus obrigações contartuais com o prazer, fica lá de cabeça baixa, todo jururu, acabrunhado, abatido parecendo amante no enterro do seu milionário. Afinal, ela nadou, nadou e morreu na praia.

- Nós precisamos assumir a velhice - fala o outro com sabedoria

-Nada disso, eu não assumo: eu transfiro eu divido com muito amor.

-Como assim, você transfere?

-Exatamente, quando eu digo para uma mulher que eu a amo eu estou transferindo e dividindo tudo com ela que tenho de bom e o que não presta mais.Quando eu lhe repasso
meus sentimentos eu os afasto, junto com minhas dores. Eu as jogo, também, para ela.
Quando preciso acabar com o latejamento incomodo no meu saco escrotal, e a tristeza que me dá ver escorrer aquele mediocre jato de urina como se fosse um fio d’águ
a de uma torneirinha que está secando, eu lembro e fico falando daquela deliciosa e lisinha bundinha dela, da sua boca carnuda, das suas coxas saradas. Veja estou jogando e dividindo tudo com ela e isto me alivia muito. Estou me livrando do medo da morte, da ansiedade da idade, do temor pelo amanhã, do dia que vou ficar broxa, e passar a tomar viagra, aí eu minto e digo até que me masturbo pensando nela.

Digo frases de efeito tipo:


-Meu amor te ofereço em holocausto minha próstata! E ela se emociona.

Minha próstata este monstro do tamanho de uma ervilha e que faz um estrago maior do que um míssil com ogiva atômica.

-Você então só n
amora mulheres muito mais novas, pergunta o atordoado cabeça branca.
-É lógico. O que é que eu vou fazer com uma mulher velha na cama? Dormir? Falar sobre bronquite, enfisema pulmonar e ela dos seus problemas hormonais, da secura da sua vagina, dos pólipos do seu útero? Qual é meu caro amigo? A cama vira uma mesa de necropsia.
Mulheres novas agem como se fossem meus medicamentos, propiciam o combate aos meus radicais livres.
É por isso que, eu preciso dizer que as amo, pois, meu coração que já está em frangalhos, cheio de gordura e o fígado esperneando e necrosando com tanta besteira que comi pela vida a for
a, vão sendo enganados como se tivessem no cidade do Neverland, a cidade do nunca!
Quando eu digo para ela: eu te amo, eu rejuvenesço. Eu deixo de lembrar que meu pulmão está uma merda, meus olhos começando a aparecer catarata, sinal de que a luz está apagando.
E principalmente meu companheiro, quando eu digo que a amo , que estou apaixonada por ela, eu só temo que ela não me cobre três trepadas numa noite, porque senão serão as úlimas.

Dou
a entender que ela corre o risco de não terminar a noite comigo e muito menos as trepadas, e ainda ter que tomar a derradeira taça vinho, com um cadáver de corpo presente!

Neste momento a atendente chama:

- O próximo.

E o cabeça branca deseja saúde, ao nosso 8.1.