Poucos tempos atrás,algumas impossibilidades físicas humanas eram vistas como sinônimo de eternos sofrimentos e necessidades de superações diárias.
Quem não se apavorava com a possibilidade de que um dia viesse a lhe faltar a visão,ou a fala,ou jamais poder escutar?
Quando jovem e o rosto ainda cheio de espinhas ficava tentando dar graduações de malefícios a estas deficiências.
Confesso que a que me atormentava mais era ficar cego,pois pensava na impossibilidade de nunca mais poder ver aquele corpo maravilhoso da minha vizinha ou ir a praia e nem poder ficar a ver navios , quanto mais todas aquelas gostosas.
Lembro também que tinha uma avô que só escutava quando queria.
Para as coisas boas que lhe falavam ela tinha uma audição incrível, mas se viessem com desgraças e problemas nunca respondia, comentava ,pois não "ouvia" absolutamente nada.
Tive um colega tão tímido,destes caras que nunca ousam ter opinião e jamais expressam uma palavra sobre nada que não seja o trivial e comum, e o apelido dele era mudinho.
Passaram os tempos e quantos de nós hoje não gostaria de ser cego, mudo e surdo?
Seria um premio e não uma deficiência em função desta barbaridade com as quais somos, atualmente obrigados a conviver.
Está tudo tão confuso minha gente que, alguns supermercados já colocam as cenouras nos boxes do xuxu e as carnes são vendidas na padaria e os pães são comprados nas prateleiras de inseticidas.
Literalmente virou zona, minha gente.
Numa sociedade na qual você já não pode falar sobre mais nada,ter que ouvir e ficar calado para ser "politicamente correto" estes nossos antigos sentidos perderam as funções.
Aquele meu pesadelo de jovem, por exemplo, de nem poder pensar em ficar cego pois, ficaria impossibilitado de ver as gostosas, outro dia me deu um lição definitiva, pois passou por mim uma destas bundudas saradas e disse esta gracinha:
-Nossa que florzinha linda, uma rosa talvez,acertei?
-Florzinha é o cacete mano,sou é cactus selvagem,seu babaca.Quer se espetar?- respondeu a moça revoltada.
Um senhor de meia-idade de terno e gravata e barba muito bem aparada, cabelo tipo cantor argentino todo para trás com gel tipo macho da década de quarenta então aproximou-se de mim e disse:
-Meu fofinho, deixa esta bagaça pra lá.Coisa horrorosa.Estou disponível meu gato e talvez faça coisas que ela nunca imaginaria fazer com você.- Consolou-me aquele cara com fala macia e cheio de trejeitos.
Fala sério: Passou a ser bom negócio ou não ser cego, mudo e surdo?
É melhor ser cego do que ver isto.Quer que eu minta?