CASAL PAULISTA ENLOUQUECE SEU TERAPEUTA.

 


Os casais que nunca embrenharam-se pelos tortuosos caminhos das narrativas que não se sustentam e que são, até facilmente desconstruídas pelo imberbe aluno da quinta série primaria que só vai a escola pensando em comer a merenda e se possivel também, suas coleguinhas de sainhas curtas, coxas roliças e outras partes tentadoras, nunca viveram a plenitude das eternas contradições que a arte de amar joga sobre o pano verde das mesas apaixonadas dos carteados nos cassinos da vida.

É o caso daqueles seres amantes contraditórios paulistas. Ela conhecida como Nica, nascida e vivida na próspero e de descomplicada pronuncia do município de Itaquaquecetuba  ele Porfírio de Tatuapé. Gente compreendam: Tudo em São Paulo é grande, desenvolvido e sempre envolto naquele smog, grande acumulo de poluição de fumaça que ao juntar-se com o fog da neblina, resulta nesta paixão dos paulistas que se orgulham viver em ares londrinos ao colocarem seus pés nas ruas. Povo sofisticado!
Nica e Porfirio namoravam há 14 anos e ainda não tinham se casado porque ela acordava às 4 h da madrugada para chegar no trabalho por volta das 8h e ele para não passar por tal sacrifício era um eterno desempregado de raiz , vivendo do aluguel dos imóveis que sua mãezinha ao morrer deixou para o filho único, mais lindo e perfeito do mundo. Vamos respeitar, mãe é mãe!
Encontravam-se em geral na cama, ela exausta de tanto ficar sentada nas três conduções que apanhava para trabalhar e ele invariavelmente bêbedo, cansado de esperar por ela;Pelo menos essa era desculpa que ele dava para encher a cara diariamente.
O relacionamento começou e ficar confuso e ela propôs que fossem fazer terapia de casal.
Na primeira sessão, após os procedimentos de praxe o terapeuta pergunta para o casal o que havia acontecido e ela antecipou-se e disse:
- Eu amo o Porfirio mas, não gosto dele!
O terapeuta se ajeitou na cadeira fez menção de se levantar, mas antes quis a confirmação dos fatos:
-Como assim?
-Eu disse que amo o Porfirio mas, não gosto dele!
O terapeuta, aí sim, levantou-se da cadeira, olhou para Nica e perguntou se ela tinha ido lá para sacanear ele, destruir as crenças dele na ciência psicanalítica a qual exercia com rara competência , quis saber dela se ela era ou já tinha sido terrorista, se também achava que a terra era plana e que a vacina era coisa de satanás.
Com toda a calma possivel Nica disse para o terapeuta com ares de filósofa depois da terceira garrafa de conhaque:
-O que o senhor achou de tão grave nessa minha afirmação? Repito: Eu amo o Porfirio mas, não gosto dele. Onde está a razão do seu espanto, ira e essa conduta  apoplética? Vejo que no cantos dos seus lábios sua saliva está secando e se acumulando e isso é nojento!
O terapeuta olhou fixamente para o Porfirio e perguntou:
-Faz tempo que ela diz isso pra você?
-Sim, um bom tempo!
E o terapeuta continuou : 
- Então, qual a razão de continuar ao lado dela e vir aqui?
Porfirio de Itaquaquecetuba olhou fixamente nos olhos do terapeuta e disparou:
-Vim para ouvir de um terapeuta psicanalista a célebre explicação contida na frase freudiana de que só desprezamos, menosprezamos, depreciamos e até podemos odiar a quem verdadeiramente amamos e não conseguimos alcançar. Essa é a tradução da contradição idiota da frase que ela sempre fala para mim. E quer saber? Essa saliva seca e acumulada nos cantos da sua boca realmente é nojento. Passe bem!