TEREZA MARGARIDA: A DEBUTANTE QUE NÃO DEBUTOU.


Estava sentado na minha cadeira de praia em um destes verões com temperatura média de quarenta graus, vendo as situações mais estranhas e inusitadas ao meu redor. Então recordei de uma festa de debutante, à qual fui quando, na minha adolescência, e era num dos subúrbios do Rio de Janeiro.

O nome da menina era Tereza Margarida, com seus muitos quilos, além do desejado,um rosto absolutamente lindo, redondíssimo e muito simpática com aquele longo e espalhafatoso vestido alaranjado, com uma coroa de pedras, logicamente falsas na cabeça e muitas jóias de 1,99 espalhados pelos dois braços , por cima das mangas compridas do vestido.Coitada, e ainda estava com conjuntivite aguda , nos dois olhos o que a obrigava, usar óculos escuros.

Logo que cheguei me deram um copo de groselha para tomar, e era impossível tomar um só, pois estava tão forte e doce que você tinha que tomar um atrás do outro e a sede só piorava.

A Tereza Margarida estava ao lado do bolo, recoberto daquele creme branco, com duas velas que significavam, quinze anos. As velas eram enormes para o bolo.

Ao lado dela mais cinco garotas com vestidos daquela mesma cor desgraçada , meio alaranjada e mais cinco rapazes de terno e gravata cada um de uma cor diferente.

A festa era em um galpão de uma charutaria, de onde exalava um cheiro de folha de tabaco insuportável, e havia uma enorme estrela amarela no chão que era a marca do charuto, e o teto como era muito alto, penduraram umas lâmpadas fortes para ficar bem claro o ambiente, só que roubaram energia do poste em frente. Colocaram, também, para enfeitar aquele salão da charutaria uns vasos de plantas a maioria delas como Comigo - Ninguém -Pode e, outros com Espada de São jorge.



Eu mesmo dei com a canela num daqueles vasos, que também tinham Espada de São Jorge e soltei um palavrão nada santo. O outro cara do meu lado riu e mostrando sua canela ferida , disse que eu não tinha sido a única vitima.
Na hora da valsa de Strauss para variar, atacando de Danúbio Azul, coitada da Tereza Margarida, faltou energia e apagou a luz, foi uma gritaria danada e tiveram a feliz idéia de acenderem as velas do bolo, quando se viu o pior, pois muitos convidados tinham invadido a mesa para pegar cachorros quente, feitos com pão francês e salsicha de lata, ambos partidos na metade, para render mais.

Tereza Margarida chorou muito, prova disso é que quando a energia voltou e a luz acendeu seu rosto parecia a de um palhaço de circo ,cujo suor fez despencar a pobre maquiagem dela.

Parecia um espantalho, coitada, enxugando as lágrimas na borda do seu vestido alaranjado.

Um destes rapazes malditos acendeu, um barbante cheiroso que solta um odor horrível de flatulência quando queimado, popularmente também conhecido como peido alemão , mas daqueles bem fortes que em geral nós deixamos escapar, após uma boa feijoada ou aquele angu à baiana, bem apimentado!

O cheiro repugnante, juntou-se ao da charutaria e o ambiente ficou mais irrespirável ainda.

Os pais dela, muito nervosos, gente humilde do subúrbio carioca, que já inspirou tantas lindas músicas, estavam espumando de raiva, a maioria dos convidados foi para a calçada e o pior ainda viria, pois desabou um temporal destes de verão carioca e em poucos minutos, para variar, a rua alagou, inundou o galpão da charutaria e a última cena que me lembro era a mesa do bolo boiando , já completamente desmilinguido,no aguaceiro,e aquela frase do pai daquela linda gorducha, Tereza Margarida gritando:

-Peguem os baldes a chuva parou , vamos todos , tirar a água aqui de dentro.

Todos quem?

A lama cobria nossos pés e "todos", já tinham ido embora!

A festa acabou, e lembro que ria convulsivamente e chorava de forma idêntica.

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