ELA O CHAMOU DE LAMBISGÓIA


E verdade!
Nunca uma mulher o tinha ofendido de maneira tão ácida e contundente, quanto daquela vez.

Que confusão!

Ele admitiria tudo, até que ela usasse aqueles adjetivos pobres e comuns tipo, benzinho, mô, queridinho, fofo, meu rei – este então é para enferrujar a espada de qualquer monarca romântico – vida, gato, bebê, neném, enfim....

Agora, lambisgóia?

O pior é que em princípio ele reagiu à altura , negando que não era , absolutamente um lambisgóia.

Pronto, foi o suficiente para ela subir na cama e enfurecidamente descabelada, saltar em cima do colchão, como se estivesse numa cama elástica de um circo mambembe de subúrbio de lona furada, cheio de atrações constrangedoras no picadeiro e gritando:

- É lambisgóia mesmo! Vai-te catar!

Nossa, agora acrescentou, mais uma, pensava ele.

Mas, catar o que? Será que ela tinha virado ambientalista convicta?

Ficava tentando encontrar soluções para aquele quebra-cabeça

O pior é que ele nem sabia, como aquela enxurrada de agressões havia começado e a razão.

Lembrava-se sim, de ter-lhe falado:

-Princesa, agora vira um pouquinho.
Mais aquele “agora vira um pouquinho” era em relação ao abajur, cuja luz estava vindo diretamente no seu rosto , pois sua amada , para saber se a pele dele demonstrava algum sinal de senilidade, tinha usado aquela luminosidade para examinar-lhe o corpo da cabeça ao pés.

Ela não encontrou nenhum sinal de senilidade , mas aquela luz ficou na sua cara, como se faz nestes interrogatórios no quais, se exigem respostas imediatas.

Era a última vez que se veriam, pois ,realmente, como ele estava na casa dela e pelas demonstrações óbvias de animosidade explícitas de raiva que sua namorada passou a demonstrar de forma intempestiva e repentinamente, sentiu que seria expulso.

Tinha acabado o jogo, que aliás até aquele momento só tinha tido um primeiro tempo chocho, insípido, sem graça, sem que nenhuma das partes tivesse demonstrando qualquer motivação para tornar mais atraente aquele pífio e triste espetáculo afetivo.
Do banheiro ela gritou:

-Pode ir embora!

Ai ele reagiu e disse:

Absolutamente, só saio daqui depois que tomar banho.
Imediatamente, ela saiu do banheiro e o chamando agora de calhorda, mandou que ele tomasse um banho rápido e sumisse da frente dela.

Que palavreado chulo; Agora era também um calhorda!.

Tudo bem, entrou no banheiro e quando ele nu, se olhou por completo no espelho, viu que estava com duas manchas enormes e roxas, na coxa e próximo a virilha , nas duas pernas. Tomou um susto e cai na real lembrando-se, que no dia anterior tinha saído com uma louca que certamente havia , sem nenhuma consideração e propositadamente,feito aquilo, como fazem os cães para delimitar os seus territórios.
-Que desumana, cruel, safada, deixou-lhe aquelas marcas que eram muito piores do que batom na cueca – pensava consigo e amareladamente, desmoralizado!

Bem, saiu do banheiro já vestido e nem tocou mais no assunto, achando até que lambisgóia teria sido uma ofensa bastante moderada, daquela mulher que pretendia ficar noivo, na semana seguinte!