CENTRAL DE ATENDIMENTOS









Hoje já temos quem nos ouça. As empresas se estruturaram com sofisticados call-centers. Atendentes são treinadas, para além de chamá-lo de "senhor", resolver seus problemas. Aliás, este era o caso. Meu cartão de crédito solicitado há vinte e sete dias, ainda não tinha chegado às minhas mãos. Então vamos aproveitar a tecnologia e a comodidade, colocadas à nossa disposição:

-Nagoya, boa tarde, em que posso servi-lo, senhor?
-Nagoya? É Nissei?
-Não senhor, africana.
-Eu nunca acerto...
-Em que posso servi-lo, senhor?
-É o seguinte, meu cartão de crédito ainda não chegou e eu já pedi há algum tempo.
-Pois não senhor. Pode me confirmar alguns dados, senhor?
-Quais?
-Nome do seu pai, nome da sua mãe, sua data de nascimento e número do seu CPF, senhor.
E então, eu disse tudo que sabia. Se mais não disse, é porque não fui perguntado.
-Obrigado senhor. Seu cartão de crédito é Estendido Premium, não é isso senhor?
-Estendido?
-Correto senhor, tem um chips.
-Exato, tem chips.
-Então senhor, infelizmente não é aqui, só atendo cartões Econômicos, sem chips. Vou transferi-lo para o setor responsável.
-Nagoya...
Já era! Bem que tentei. Imediatamente outra atendente na linha.
-Ruth, boa tarde senhor, em posso servi-lo, senhor.
-Ruth da bíblia ?-brinquei para quebrar um pouco minha tensão que já dava sinais de sobrecarga na minha rede de energia elétrica.
-Desculpe senhor, em posso servi-lo?
-É o seguinte meu cartão ainda não chegou é Estenso Premium, com chips, exatamete com o que você trabalha.



-Exato senhor. Pode me confirmar alguns dados?


-Confirmar não, eu posso reconfirmar, pois sua colega já me pediu.
-Desculpe senhor, mas é para sua própria segurança. Nome do seu pai...
Estava certo. Atualmente nunca se sabe quem é o interlocutor. E lá estava eu repetindo tudo de novo. Mas afinal era para minha segurança...
-Obrigado senhor. É com o titular que eu estou falando?
-É. Pensou que era o Ricardão?
-Um momento senhor.
Após “uns momentos”...
-Senhor, quando o senhor, pediu o novo cartão, senhor?
-Tem uns vinte dias.
-Engraçado senhor, não consta no sistema, senhor.
-E que graça tem isto?
-Desculpe senhor, vou transferi-lo para o setor de emissão de novos cartões Estendido Premium, com chips, senhor.
-Mas Ruth?
Novamente, não consegui pegar e a nova atendente, no entanto com a presteza habitual já se apresentava.
-Esther, boa tarde. Em que posso servi-lo?
-Como assim?O velho testamento está todo trabalhando aí
-Como senhor, não entendi.
-Deixa pra lá...
-Em posso servi-lo, senhor?
E então, com já havia decorado direitinho o meu texto, disse-lhe tudo rapidinho.

-Ok, senhor vou precisar conferir sua documentação, senhor.

-Não, não posso. Tenho amnésia, Alzaimer, arteriosclerose, e estou tendo AVC.
-AVC, senhor?
-E olha, você podia até me chamar de “amigão”, “cara”, “mano”, “maluco”, ”tio”, mais se resolvesse o meu problema, sua incompetente...
-Senhor, senhor...
Desta vez eu tinha ido às forras. Fui mas rápido. Ela ficou falando sozinho.
Algum tempo mais tarde, já tendo me vingado suficientemente das atendentes, do sistema, do call-center, enfim, verifico que ainda estava com o mesmo problema. Que bobagem tinha feito, por um simples prazer, fui fazer minha atendente infeliz, com diria Jamelão no clássico: Matriz e filial.
Voltei a ligar:
-Jesus, boa tarde. Em posso servi-lo, senhor?
-Quem está falando?
-Jesus, senhor!
-Senhor, eu? Quanta humildade!
Exultante e agradecendo aos céus pela dádiva concedida, tive a certeza de que agora sim, teria resolvido meu problema, e sem intermediários, pois Deus é grande, Deus
é pai!

A MEDICINA DO PRAZER



Conheci uma boa médica. Até pensei que fosse muito esparadrapo para o meu curativo.

Conversa vai, conversa vem e já estávamos no seu apartamento. Trocou o elegante jaleco de linho branco por uma sedutora lingerie preta. Desfez-se do estetoscópio.

Um som, pouca luz e uma atmosfera propícia para uma demorada consulta.
Que corpanzil. Não era grande. Era perfeito! Oh, o amor é lindo! Este é o tipo de mulher que jamais se preocupa se os homens irão ou não propiciar-lhes generosas e demoradas carícias,ao contrário de muitas outras que, chegam a fazer até passeatas em vias públicas, levando multidões a Praça


da Sé ou a Candelária em comícios feminista pró-preliminares.
Aquele mulherão sabe que ninguém irá poupar-lhe uma extenuante preliminar. Seria o mesmo que pescar sem anzol.
Coloquei-me a seus pés com humildade e o menor vestígio de machismo. Exorcizei qualquer possibilidade de ejaculação precoce, mantendo a idéia fixa na imagem do Paulo Maluf, nu na cadeia, dizendo-se inocente.

No entanto, durante uma das minhas mais irretorquíveis performances e uma empolgação de deixar comissão de frente de escola de samba com inveja, ouço um sussurrar rouco e quente, que dizia:

- Explore mais meus corpúsculos de Meissener. Não entre em estado de detumescência. Coisa gostosa! Hoje não vou ter dispareunia. Como é lindo o seu membro. Nenhum vestígio de doença de Peyronie.
-Epa! O que está acontecendo?- Inquiri, abandonando o parque de diversões.
-Amor, não pare - insistia.
-Já parei! - disse.

Olhamos demoradamente, um nos olhos do outro. Seu rosto era um misto de decepção e culpa. Lágrimas verteram do seu verde olhar. Sua beleza então se tornou mais exuberante e sofrida. Resolvi partir para o diálogo:

-Você falou sobre doença de Peyronie no meu membro?
-Desculpe, eu estraguei tudo;
-Eu tenho ou não, este troço no meu membro?
- Não. Eu disse que era lindo e não tinha nenhum vestígio;
-E porque você falou nisso, logo naquela hora?
- Em geral os homens apresentam sempre alguma nuance da doença de Peyronie no membro;
-Mas que diabo é isso? Se não tenho, porque precisava falar. É alguma tara?
-Uma besteira. Desculpe.
-Agora explica o que é isso.
-Depois. Vamos continuar...
-Não. Que doença que eu não tenho e você falou, gratuitamente?
-É a fibrose da membrana albugínea que reveste o corpo cavernoso, determinando uma curvatura do eixo do pênis.
-Curvatura do eixo do pênis?
-Amor, o pênis fica torto para um dos lados e meio curvado...
-Parece que bateu de frente? Fica com a carroceria fora do centro e andando de lado (risos);
-Seu bobinho. Dá para quebrar o galho Até operar;
- Ainda bem. Dá para fazer uma lanternagem. E a tal da detumetendo?
-Não é detumetento (mais risos).
-Você falou no meu ouvido para que eu não entrasse em estado de detumetendo;
-Estado de detumescência!
-E daí? Eu tô no maior rala e rola, querendo nota dez na performance e de repente você enfia esta coisa no meu ouvido;
- Foi mal!
-Dá pra explicar?
- Detumescência e a redução da inchação dos corpos cavernosos, quando o pênis retorna à condição de flacidez.
-Amolece?
-É;
-Você notou que eu estava broxando?
-Não, pelo contrário...
-Então porque falou?
-É esse vicio de análise diagnóstica;
-Você quando tira o jaleco, deve também tirar da cabeça estas coisas. E depois aquele tal de corpúsculos...
-De Meissner?
-E eu com isso?
-Eu pedia que você explorasse bem meus corpúsculos de Meissner. São corpúslos da pele responsáveis pela percepção do tato...
-Porque não pediu em português normal: amassa, morde,arregaça, vai fundo...
-Pois é, estava tão gostoso, meu amor. Você realmente caprichava naquelas preliminares que nós adoramos. Aí estraguei tudo, com aquele palavreado que lhe assustou. Esquece.
-Ainda não. Você fala estes tsunamis no meu ouvido, agora explica, pois, soou como um soco na minha trompa de eustaquio.
- Dispareunia é quando a mulher na hora do coito sente dor.
- Dor?
-É uma doença. Eu disse que não ia sentir dispareunia desta vez.
-Ainda bem, afinal nós viemos aqui para sentir prazer ou dispareunia?
-Pois é agora vamos voltar para aquelas maravilhosas preliminares que você estava me proporcionando seu desbravador. Só falta o ponto G!
-Tudo bem, mas lhe peço um favor doutora, em homenagem a Hipócrates, fica só gemendo. Tá certo?
-Prometo!






ENGANA QUE EU GOSTO.


O casamento foi lindo! Foi tudo muito lindo!

Dizem que as mulheres valorizam mais do que os homens o planejamento, as compras, as festividades, tudo que cerca aqueles momentos mágicos que antecedem ao "sim" da união matrimonial dos cônjuges.

Em parte, isto é verdadeiro, não totalmente, porque eu me emocionei muito com o nosso casamento. Mas, reconheço que realmente você o valorizou muito mais. Comprou tudo. Coordenou todas as despesas. Quanto empenho! Envolveu toda a sua a família. Fez inúmeras reuniões com os calaboradores voluntarios.Verdadeiro trabalho em equipe. Todo os seus familiares quiseram ajudar!

Só depois da lua de mel é que fui ver tudo direitinho, fazer as contas, cotejar. E, como você valorizou Carmem Lucia!

Aquelas cinqüenta rosinhas de chocolate que a sua mãe sugeriu para que fossem oferecidas aos convidados quando eles saíssem da festa, custou mais do que o aluguel da igreja e o coral, com o órgão do padre e tudo. Lembra do meu sapato preto, importado da Austrália de couro de canguru, que você achou lindão? Então, daria para comprar uns cinqüenta pares com o dinheiro gasto naquelas singelas lembrancinhas de chocolate.

Eu sei que foi uma amiga da sua mãe que nos vendeu, não foi? Se a gente não conhecesse bem a sua mãe, Carmem lucia, diríamos que ela levou, no mínimo, cinqüenta por cento de comissão naquela comprinha. Foi muito caro. O pior é que eu vi crianças atirando aquilo umas nas cabeças das outras. Um duplo desperdício. Como você valorizou nosso casamento, Carmem Lucia!

Aquela gorda que fez os pasteizinhos de queijo para tira-gosto a pedido do seu pai bebum, cobrou mesmo, aquilo tudo? Tem certeza que o seu pai só gosta de comer os pasteis dela?

Fiz umas contas rápidas e o que pagamos por aqueles pasteizinhos safados e mirrados daria para a gente comprar uma pastelaria no estado que mais se come pastel: São Paulo. O pastelzinho tinha no máximo, o mínino de pastel. Uma coisa à toa que, nem tinha vento e, com uma bolinha de queijo muito acanhada lá dentro, do tamanho de um grão de feijão. Um roubo!

Desculpe, mas é revoltante. Outra coisa Carmem lucia: eu tinha alugado um carro conversível, do ano na agência de um amigo, uma semana antes, e no dia do casamento seu irmão cancelou e alugou o carro dele para nós, aquele Escort, vermelho 86, surrado. Eu não entendi. E nos cobrou o dobro do preço daquela limousine conversível que eu já havia contratado. Olha, vou ao Procon. Temos que conversar, seriamente, com seu irmão

E tem mais, quem pediu aquelas empadinhas de camarão para sua prima? Confere aí, pois, eu duvido que ela tenha mandado as quinhentas encomendadas. Foram caríssimas, não tinham camarão e ela deve ter entregue, menos da metade do que nos cobrou.

O Juninho, filho da Esmeralda berrava: - mãe devolve minha empadinha. Ela tomou da criança na mão grande. Todo mundo estava reclamando. Meu amor você valorizou demais, prestigiou demais seus parentes, foi muito mão aberta com a sua família.

Você falou que o tapete vermelho iria da entrada da igreja até ao altar. Que tapete? Eu vi o padre em cima de um pequeno capacho vermelho. Roubaram o maldito do tapete, Carmem Lucia?

E o dinheirão que eu paguei por 20 quilos de pétalas de tulipas multicoloridas que seriam jogadas em cima de nós no momento do beijo, lá no altar. Pétalas? Minha cabeça ficou cheia de serragem e papel de jornal picadinho. Parecia desfile gay na avenida, Carmem Lucia.

Ficamos todos emporcalhados com aquilo. Não quis lhe falar nada para não quebrar o clima, mais até quando nos deitamos na nossa tão esperada alcova na lua de mel, você ainda tinha aquele embuste de enfeite, dentro da calcinha. Lembra-se que eu comecei a espirrar? Era serragem Carmem Lucia!

Vê qual foi o seu parente que nos vendeu alho por bugalho. E o arroz que seria jogado quando entrássemos no carro?

Parecia chuva de granizo. Eu paguei arroz agulhinha de primeira.

Jogaram milho na nossa cara!
Milho, Carmem Lucia! Alguma insinuação a você? Não é possível !

Tudo isto seria perdoado, não fosse aquele episódio grotesco de você começar encher a cara com seu pai - aquele bebum inveterado - desde cedo, e ficar em altíssimo, estado alcoólico mal a festa ainda ter começado. Abraçava todo mundo com aquele bafo insuportável e, ao invés de cortar o bolo de casamento cortou a galinha assada, do prato que estava perto.
Carmem Lucia, quando você me ofereceu aquele pedaço de galináceo, ainda pediu para que eu não sujasse o terno com o chantilly! Foi, exatamente, aquele seu deplorável estado de embriaguez que, não deixou você notar quando, no final da festa, saímos e seu irmão parou aquele maldito Escort, no tal hotel que seu primo nos reservou, dentro de um pacote turístico que incluía estada em Teresópolis por uma semana com café da manhã, almoço, lanche e jantar executivo com velas e outras coisas românticas ,como passeio de cavalinho e assemelhados.

Na verdade ele nos deixou num velho sobrado na Rocinha. Lembra-se que você dizia - nas poucas vezes que conseguiu acordar naquela noite do embuste - que seu primo tinha pensado em tudo, até nos fogos de artifício?

Carmem Lucia, aquilo não era foguetório nenhum, e sim um intenso tiroteio de armas pesadas entre a policia e os traficantes do local.

Como fui enganado!Estou num estado deplorável e lhe deixando esta carta, porque já está amanhecendo, você ronca como uma porca, o tiroteio acabou e vou direto procurar meu advogado para anular este verdadeiro ato de terrorismo que vocês chamaram de casamento e, colocar sua família na cadeia.
Carmem Lucia, respeitosamente, caso você queira suicidar-se -movida
pelo inevitável remorso que irá corroer-lhe as vísceras -
deixo-lhe um vidro de chumbinho na mesinha de
cabeceira. Torço por isso. Adeus.

MULHERES,MENOS!

Mulheres, nudez, seios e nádegas siliconados, lipoaspiradas como se fosse interior de automóveis sugadas pelos potentes aspiradores dos lava-jatos.

Capas de revistas uma atrás da outra, com poses mais apropriadas para exames de ginecologistas do que para a valorização das formas do nu feminino.

E agora com estes maravilhosos recursos da informática, como o photoshop e outros, ninguém mais sabe, quem é gato ou lebre! Tudo sempre igual.

Vamos fazer diferente, um pouco diferente. Mulheres vistam-se!

As revistas femininas poderiam liderar este movimento pró-mulheres comportadas e, com saias de mulher, blusinhas de mulher, sapatos de mulher, jeitinho de mulher, sem palavrão, cigarro e cheiro de álcool. Que pecado! Mulher, definitivamente não combina com certos odores.

Uma mulher mais recatada, que não saia dos banheiros de restaurantes, ainda fechando o zíper das calças e que, se distancie dos botequins, fazendo tipo inseguro -mimosa -carente.

Mulher que não queira ficar famosa, só porque fez mais implantes, do que a “concorrente”, e que foi mais retalhada, cortada, fuçada do que caça na época da barbárie ao serem levada para o espeto da fogueira da tribo e matar a fome da comunidade.

Afinal, mulher nunca foi só um corpo. Quando os homens as viam desta forma - com justa indignação - havia revolta por parte delas, e os homens eram estigmatizados como machistas. Para surpresa geral dos homens, agora foi a mulher quem colocou uma cabeça de homem antigo, acima do seu novo pescoço, pseudo-moderno, de mulher.

Enfim, uma releitura da mulher-mulher. Os homens andam procurando a mulher que depois de uma cantada, diga com aquele ar de Monalisa:

- “Vou pensar. Vamos dar tempo ao tempo”, ao invés de responder avançando no pescoço do homem com a aquela língua mortífera e saltitante, e surrurando-lhe no ouvido:

- Vou mostrar-lhe como ficaram perfeitas as minhas as minhas nádegas depois do implante de quinhentos mililitros... em cada uma”, afirmam em seguida, fazendo caras e bocas extraordinárias!

O homem exige um pouco mais nostalgia, precisam voltar a ter a possibilidade de fantasiar, como poderia ser o corpo daquela mulher. Está tudo muito rápido, sem criatividade, previsível e encharcado de cerveja!

Certos odores na boca de mulher são repelentes do sexo: álcool e cebola! E nesta implosão de desatinos, as sexólogas ficam falando numa suposta “nova mulher”, e que os “homens estão assustados com esta nova mulher cada vez mais exigente”. Mulheres que ficam apontando seu ponto G para os homens e aos berros sinalizam, :
-Meu clitóris é aqui!

Todo homem sabe que a mulher tem um seio ao lado outro, uma coxa ao lado da outra e tudo mais.O que se pede é tempo para imaginar como seriam. A nova proposta é recuperar o valor do beijo único, exclusivo e não, destes que são distribuídos como saquinhos de doce em festa de Cosme e Damião. O beijo na boca, principalmente de pé, era tão gostoso. O beijo na boca, com suavidade, sem parecer que existe uma câmera de reality show filmando, ou então para demonstrar que não é um beijo técnico. Coisa, mais em graça, com aquelas enormes línguas lutando espada debaixo dos narizes dos contendores.

Uma mulher que goste de freqüentar lugares onde a musiquinha ao fundo é baixa, deixando que ambos possam sussurrar palavras um no ouvido do outro.

Mulher-mulher que use calcinha e que, jamais diga a cor. A gente sabe com elas são, mas por isso mesmo, temos que reaprender a fazer esta coisa diferente. Freie este ímpeto do século passado de auto-afirmação, dizendo-se canasativamente, emancipada, e falando do seu dinheiro, do seu emprego, seu apartamento, sua promoção, seus projetos, seus cartões de crédito...

Isto tudo o homem fazia antigamente, e o mundo ficou desta forma. Agora, se você mulher, achar que, o mundo que eles construíram foi uma obra, realmente maravilhosa, então, acenda o próximo charuto !

A INSTRUTORA DE ARTES SENSUAIS

A década de 60 liberou geral aquela galera que, só fazia sexo depois de cumpridas as formalidades legais, e os seus pais orgulhavam-se de dizer que, suas filhas haviam casado virgens e de papel passado.

Segui-se, então, um período que, dar um pouquinho a mais ou um pouquinho a menos, não seria motivo para denegrir ninguém, desde que ela tomasse o anticoncepcional recomendado pela amiga.

Naqueles tempos idos, camisinha de Vênus, era uma simplória expressão, relativa a um tipo de vestimenta mais despojada da deusa grega do amor.

Então, as mulheres, foram descobrindo aos poucos que o aparelho genital masculino não era o inexpugnável cofre do Banco do Brasil e que podia, tranqüilamente, ser explorado desde que houvesse um mínimo de motivação, nenhuma culpa por querer ser feliz e, alguma sorte - sem o que, aliás, não se chupa nem laranja sem engasgar - como já diria o mordaz, Nelson Rodrigues.

Lembremos que a mulher do período sexual paleolítico e, portanto, anterior aos anos da explosão sexual, jamais demonstrava ter vontade ou afinidade com a prazerosa arte de “fazer neném”. Prova disto, eram as repetitivas e insólitas reações e desculpas que elas davam, sempre que incitadas pelo parceiro a ter um prazer maior, do que comer pipoca sentada no sofá, vendo televisão.

Invariavelmente, ouviam-se frases que eram verdadeiras pérolas de inapetência e jejum da sensualidade feminina, como por exemplo:

- ”se você quiser, eu deixo”, -

“por mim tanto faz”,

-“se isto vai te aliviar eu faço”,
-“pode, mas não ponho a mão”, -

“pára, pára, não, não... seu desgraçado, ta vendo, eu não queria fazer isto, olha que sujeirada”, ”seu egoísta, é sempre a mesma coisa”, “o quê? Faz isto com a tua mãe”, “ah, que nojeira!”.

Um amigo contou-me uma história, desta época anterior a da liberação sexual feminina, que a única vez que a sua mulher emitiu sons vocais diferenciados da palavra e, aparentando um vestígio de estado orgástico, foi quando, inadvertidamente - ele no calor do amor conjugal - derrubou-a sobre uma caixa de costura aberta, que estava em cima da cama. Disse-me que, foi à única vez que a mulher dele gemeu na cama. Que maldade!

Bem, se ela era assim tão econômica nas demonstrações de prazer, podia ser também que a culpa fosse dele, um tremendo desconhecedor do ponto G, e um amador e inexperiente frangote, na execução dos malabarismos, tão solicitadas nas preliminares.

Algumas mulheres exigem tanto as preliminares, que acabam se esquecendo do jogo principal. Porém, isto já é coisa do passado, pois, neste terceiro milênio da era de aquário - apesar das pesquisas, ainda apontarem que cerca de 40% das mulheres brasileiras nunca terem chegado ao orgasmo - devemos reconhecer, que a maioria tem ido fundo e, como nunca, na saudável prática de abraçar o mundo com as pernas, como diriam nossos avós.

Hoje, o mercado abriu-se, literalmente, e em todos os sentidos, para as dádivas do prazer e já existe até instrutor de artes sensuais, uma variação mais arrojada dos atuais profissionais de ginástica, genericamente, intitulados de personal training.

Sobre isto é que repousa uma das minhas mais recentes fantasias, qual seja o de fazer-me passar por um idiota completo, e marcar uma consulta com umas dessas instrutoras de artes sensuais.

Primeiro, como todo homem faz, mentiria deslavadamente, e ela como toda mulher age, fingiria cinicamente, que estava acreditando. Diria que não fazia sexo há cento e quarenta e seis meses, pois minha “senhoura” era estéril, psicótica, cardíaca, epilética, hipertensa, só possuía um rim, metade do fígado, um terço do estômago e nenhum pulmão. Faria, então, as deprimidas caras e bocas de carente, desesperado e abandonado à própria sorte afetiva. Um ícone da infelicidade! E ao deparar-me com a instrutora de artes sensuais, diria convicto:

– Instrutora, estou aqui para ter uma aula de atualização daquelas posições que fazemos na cama, quando nosso objetivo não é dormir. Depois de todo este tempo que lhe falei, sem fazer sexo, eu não sei fazer mais nada na cama, a não ser... dormir. Durmo, por exemplo, de bruços, de ladinho e de costas. Na realidade, eu prefiro de ladinho, pois como tenho desvio do septo, nesta posição meu nariz não entope não me engasgo e evito ter uma apneia - aquela incrível sensação que nunca mais vou respirar.
Dito isto, esperaria que ela perguntasse:

- Mas é impossível você não se lembrar. Nem daquela básica?

- Bem, já que você perguntou... Espera aí instrutora, deixe-me pensar se ainda me lembro - sempre fazendo cara de carente e imbecil.

- Sim instrutora, estou lembrando, ajude-me, por favor... Bota sua perna esquerda, ali em cima da mezinha de cabeceira, com cuidado para não derrubar o elefante de porcelana ou afundar o calcanhar naquele pote de vaselina. Veja, estou começando a relembrar. Acho que vamos fazer até uma posição bem supimpa! Estica, e suspende a perna direita, em direção ao ventilador do teto e fica acompanhando o movimento da hélice. Isto, assim! Este movimento é muito bom também, para reforçar a musculatura interna das suas coxas. Agora “instrutorazinha” afasta mais a perna esquerda da tromba do elefante, ou tira aquela merda dali! Assim está bem, obrigado. Agora, com a sua mãozinha direita, segura aqui, isso bem aqui (ah, que saudade!). Aproveita que até agora, a sua mão esquerda ainda, está livre e tira este maldito cachorro de cima da cama.
Sentindo que eu estava um pouco ansioso e começando a me estressar, a instrutora decidiu dar uma verdadeira aula de sexologia, objetivando acalmar-me:

- Se eu ainda estou lembrada – disse-me com absoluto ar professoral - esta é a décima segunda posição do famoso sexólogo hindu Kama Lharga, em seu livro intitulado: “Dando a Buda”. Neste livro, ele ensina como viver feliz e saudável sem sair da cama. Foi publicado pela Editora Pau Brasil, e contem mais de duas mil e trezentas posições inéditas.
E continuou com extrema demonstração de eruditismo:

-Na referida obra, o autor propõe as mais incríveis técnicas de como transformar um básico homem sonolento em um verdadeiro macho caçador, carnívoro, uma verdadeira besta humana, autêntico espada e, aquela mulher estressada, cansada e frígida numa autentica, mulher-aranha.

Pasmo com tanta sabedoria, e para demonstrar o mínimo de conhecimento sobre a vida de kama Lharga, contei-lhe que havia lido que o referido autor tinha sido expulso da china na década de 80, por ato inadvertido, e de terrorismo explicito, quando escolheu como título de sua palestra em Pequim, de: crescei-vos e multiplicai-vos. Acontece que nesta época, o governo daquela populosa nação, premiava com um radinho de pilha o casal que não tivesse nenhum filho. Li também, que era um excelente mestre da culinária, muito conhecido na Itália, pelo seu afrodisíaco “ravióli ao culo” e nos EUA pelo seu “hambúrguer gay”, com lingüiça de búfalo e dois ovos de Ema da Carolina do Norte.

No Brasil, fracassou direto, pois tentou ensinar como se preparava um “lombo à baiana, pois, para nós, suas técnicas eram do século passado”. Um autêntico primata. Prova disto, é que levou, daqui, farto material didático para estudar e se atualizar para o resto da vida, pois o pleno domínio de todas as formas de sacanagem possíveis é nosso maior patrimônio.

Retornando a nossa aula, e já que havíamos esgotado o tempo dedicado às teorias sobre a matéria, pedi a instrutora para que, antes dos “finalmentes”, ela me trouxesse uma caipirinha, fechasse a porta da suíte, abrisse o chuveiro, mudasse a fronha e o lençol da cama, apanhasse uma toalha de banho bem grande felpuda e cheirosa, tirasse meus chinelos do caminho, apagasse a luz da sala, acendendo a do quarto, desligasse o telefone, colocasse um sonzinho, soltasse os cabelos, ligasse o ar condicionado...

-Espera aí, companheiro! – interrompeu-me, histericamente, minha musa instrutora, que aos berros, analisou meu quadro patológico de forma bem objetiva:

- É por isso que você diz que não faz sexo com sua mulher há muito tempo. Afinal, nenhuma mulher conseguiria ficar acordada depois de cumprir todas estas suas ordens e executar tão broxantes tarefas. Você não gosta de fazer sexo. Você gosta é de gerenciar.Sendo assim, ao invés de uma instrutora de artes sensuais, você tem que contratar é um administrador especialista em O&M, a tal de organização e métodos.Vá pro quinto dos infernos!

A AMANTE ORIGINAL

Aproxima-se o fim de mais um dia de intenso trabalho, e aquele pensamento constante e repulsivo, não lhe saía da mente! Pensava a cada minuto, naquela criatura vil e aterrorizante que deixara em seu lar.
A última noite, em sua companhia, fora a mais cruel e insuportável, e naquele momento resolvera, de uma vez por todas, por fim àquela situação.
Chegando a sua casa, logo ao abrir a porta, deparou com aquela criatura mesquinha, sórdida e provocadora que não lhe dava um minuto de descanso, fazendo-o passar os dias e as noites mais infelizes e atribulados da sua vida.
Resolveu declarar guerra àquela megera, acintosamente deitada em sua cama, como a desafiá-lo, ostensivamente.
Atirou-se à cama para agarrá-la e castigá-la, masculamente.
Ela fugiu, logrou escapar, indo para a sala tentando esconder-se, numa atitude covarde, digna, somente das criaturas inexpressivas.
Ele a seguia furiosamente, tinha de uma vez por todas que acabar com aquele sofrimento brutal, que fazia do seu lar, um cubículo triste e aterrorizador.
Iria espancá-la com o salto duro do seu sapato, daria contra aquela cabeça vazia, para ensiná-la a dor que nunca antes havia conhecido, pois jamais fora homem de bater em ninguém, quanto mais num ser mais frágil como aquele.
Calculou friamente a pancada e mandou brasa, porém mais uma vez, aquela criatura conseguira desvencilhar-se, correndo de um lado para outro como se estivesse zombando da sua virilidade e, finalmente, foi para o quintal. O nosso pobre amigo suava frio por todos os poros e, o cansaço já era uma evidente realidade em seu corpo.
Numa atitude derradeira e louca, resolveu matar aquela coisa, sim matar a tiros. Faria daquele ser, migalhas.
Rapidamente foi ao quarto, abriu a gaveta. Tremiam-lhe as mãos. Apanhou sua arma - um revolver 38, cano curto - e a passos firmes caminhou para o quintal escuro, envolvido na noite fria de inverno. A vitima, ali estava escondida.
Ascendeu uma vela que trazia no bolso e colocou-a no chão. Então a luz fraca da vela, descortinou-a encostada a um canto, já agora temerosa, mas nem por isso, menos intragável e repulsiva.
Corajosamente, apontou-lhe a arma. Fez mão firme, pois aquele era o momento mais dramático da sua vida. Mirou-lhe, estrategicamente, a arma, para o seu crânio e disparou por diversas vezes, ouvindo-se as secas detonações das cápsulas. Seguiu – se a morte instantânea da vitima, já agora enlameada e inerte no solo.
Sua cabeça destroçada sob a terra aguada da chuva, que algum tempo caía, como para limpar as horrendas manchas daquele ser, apresentava-se como o quadro final daquela tragédia.
-Livre, estou livre – gritava, histericamente, aquele secular sofredor.
Sim, jamais passaria outras noites em claro por causa daquela criatura.
Lá estava ela destroçada pelos certeiros tiros do nosso frouxo machão, que na linguagem esportiva, dir-se-ia ter acertado bem na mosca, porém, o que não é verdade, pois no caso a mosca era uma barata, ou se quiserem seu nome científico, aqui vai: Periplaneta Americana.

EPITÁFIO
Barata, do latim, blatta, substantivo feminino, ortóptero onívoro, de corpo achatado e oval, que põe ovos em ootecas (estojo). Pode ser silvestre ou doméstico, e tem hábitos noturnos, segundo o dicionário do Aurélio.