COMO ELE CONHECEU MARILEINE.



Estava na praia sob um sol descascante.Sensação térmica de quarenta e cinco graus debaixo da barraca e em meio aquela sensação de que o deserto do Saara era ali, o cara vislumbrou um oásis de mulher, loira natural e naturalmente, irresistível ,com um maiô fio dental preto!

Acenou com a cabeça, esboçou um sorriso para aquela mulher lindíssima que estava deitada de bruços, olhando na sua direção. Então, ela levantou-se, ta
mbém, mas em direção ao mar, como se estivesse querendo dizer: -Olha o que, nesta vida, um homem pode desejar de melhor, numa mulher!

Ela não deveria ter feito aquilo.Ele já estava satisfeito só com as suas costas lisinhas, bronzeadas, sem um sinalzinho sequer e aqueles dois morrinhos no final, de onde saíam duas coxas roliças, e com penugens tipo pêssego. Absolutamente, gostosas. Ponto.

Loira com penugens tipo pêssego, derruba e causa arritmia no mais normais dos corações masculinos.

Levantou-se também, e seguiu-a por trás, num ângulo privilegiado e ainda tomando fôlego para me acostumar com o que esperava ver pela frente.
Disse:
-Calor infernal, né?
Ela olhou para trás e falou-
-Oi, verdade. Ah toma conta das minhas coisas lá na areia?
Deu meia volta, tal qual um solícito serviçal destas grandes mansões e ocupou o território dela.
Mulher tem que saber mandar. E como ela sabia. E podia.
Ela deu uma mergulhada e aí sim de frente para aquela maravilhosa realidade, ele descobriu o novo Colosso de Rhodes com uma boca carnuda, nariz empinadinho, olhos levemente puxados cor de mel, dois seios um do lado do outro, robustos, mas comportados, sem ter passado por cortes, nem próteses de silicone, um ventre de santa, e aquele andar, tipo mexe-mexe, enfim um corpo moldado no dia mais inspirado do Homem lá de cima.

-Apanha esta toalha –Pediu com um leve sorriso de quem sabe o sorriso tem.
Passou levemente no rosto, estendeu-lhe a mão e se apresentou.
-Prazer, Marileine.
Antes mesmo que ele pudesse dizer o meu nome, ela atropelou.
-Vou tomar um mate.
Aí, o extasiado serviçal deu um berro e o cara do mate veio e perguntou-lhe.
-O Sr...Também toma?
Imediatamente reagiu;
-Não, e ela quem vai tomar, e disse isso olhando escancaradamente para aquele par de coxas que estavam a sua frente, pois sentado na toalha ele tinha a impressão que o mundo era realmente, só aquele par de coxas, pois sumiu o mar, as pessoas em volta, eram só coxas!
-Ah, também quero biscoito - completou o pedido.
Ordenou ao cara que servisse.
O vendedor perguntou-lhe.
- E o senhor, vai comer?
Instintivamente saiu a frase que denunciava sua intenção
- Pretendo comer.
Quando o vendedor oferece-lhe o saco de biscoito, ele acordou e corrigiu.
-Não, mais tarde. Mais tarde, eu como também, o biscoito.
O “também” abriu um sorriso em Marilene que nem garota propaganda escolhida realmente, a dedo e a dente, consegue tal performance: Perfeito!


-Trabalha em que Marileine? – pergunto-lhe.
-Sou freelancer... Faço traduções.
-De qualquer língua? - Apimentou com uma inevitável vontade mórbida de agarrá-la ali mesmo.
-Grego e inglês.
Antes que ele fizesse qualquer comentário Marilaine chamou o vendedor de sorvete e pediu um picolé. Chocolate crocante. Quando segurou no pauzinho ele viu as mãos mais delicadas e singelas, com as unhas pintadas de vermelhão.

Ela levou a ponta do sorvete à boca e deu uma chupada na pontinha. Ele deu uma mexida na areia, parecendo ter sentido o reflexo prazeroso em si, daquele inocente ato.
Pagou, ou melhor, continuou pagando.
-Você mora por aqui, Marilaine?
-Com meus pais
-Estuda?
-Estudei até os vinte e três.
-Então, parou há pouco tempo...
-Quatro anos.

Pronto aquele mulheraço, tipo sessão de gala do Cirque de Soleil tinha vinte e sete anos.
-Se formou em quê?
-Nutricionista.
Oh céus, era tudo que ele precisava: falar sobre comer, qual a melhor comida, como comer melhor, onde, o quê, devagar, médio ou de presssinha, se chupar laranja tinha mais vitamina c que tangerina, se ela gostava de mandioca, cenoura, nabo...
Enquanto pensava estas mirabolantes e antropofágicas fantasias sensuais, passa novamente o cara do Mate. Pagou, outro. E mais um sorvete e, enfim...Continuou pagando.
Mas, naquela época, estas pequenas despesas foram o melhor investimento dele.
Saudades de Marilaine casou-se com um milionário armador grego.
A competição foi muito desigual, pois ele só tinha um caminhão que, até dava para levar toda aquela areia de sedução, mas reconhecia que nos navios do grego Marileine deve ter sentido mais segurança e espaço para servir-se e ele só esperava, que ela estivesse sendo bem atendia e em mesas fartas de muitos talheres.

Pois, enquanto, Marileine esteve com ele, os talheres eram muitos e sempre de prata, pensava nisso ,com evidente ar melancólico.
Como ela merecia.
Realmente,o amor é lindo mais nem sempre, vive só de talheres de prata.