Na volta, invariavelmente, aquela tia curiosa telefona e pergunta com a sutileza de um elefante pisando em ovos:
- Então minha sobrinha a “viagem” foi boa?
-Foi tia...
-Correu tudo direitinho?
-Correu tia...
-Ih, você está tão monossilábica. Vamos aos “finalmente”?
-Ah, tia foi bom e foi mal. O relacionamento sexual é uma coisa muito complexa sabe...
-Sei minha sobrinha, lembre-se que eu apesar de não estar em pleno gozo das minhas antigas aptidões, também, já fui “mocinha”, casei e tive minha lua de mel e dei, também minhas cacetadas! – pondera a tia com um profundo ar nostálgico de “quero mais”.
-Pois é tia, as nuances dos sentimentos humanos, são muito paradoxais e aquela intensa ambivalência de amor e ódio, vive permeando de forma intensa e inexorável, cada instante que precede as intenções instintivas de plena realização da libido.
-Hei Sobrinha, que palavreado é este? Você não esta lá na faculdade dando suas aulas de psicologia. Fale aberto com sua tia.De mulher para mulher. Abra seu coração.Foi ou não foi legal? Não vai me dizer que ele é ela?
-Não tia, nada disto. As coisas não são assim, tão simplórias.
-Como assim?
-Bem, já que a senhora quer detalhes, vamos aos fatos: Quando nos deitamos, ele começou a me beijar muito ternamente, com a suavidade de um alegre e saltitante beija-flor a percorrer meu corpo, sempre descobrindo uma nova reentrância na minha pele, tal qual um cartógrafo do amor, mapeando os nossos desejos.
-Que lindo minha sobrinha, mas continua muito intelectualizado, para o meu gosto Reconheço que está muito romântico. Vamos em frente! Eu espero...
-Pois é tia, ele suava muito, apesar do ar condicionado. Aos poucos, no entanto, os carinhos suaves, transformaram-se num suspirar intenso como se tivesse incorporado um búfalo no cio e babava muito, de forma apopléctica, ameaçando entrar numa crise epilética ou coisa parecida. E eu ali imóvel, sem saber o que fazer, apesar de ter lido muitas revistas femininas sobre a primeira noite. A senhora sabe que meu grande sonho era o de casar virgem...
Pois é querida, e eu sempre achei isso uma grande babaquice da sua parte, pois é dando que se recebe! Ninguém aprende certas coisas, só lendo – interrompeu a tia nervosamente.
-Mas, tia, ele sempre adorou aquela minha qualidade de casta. Dizia-me sempre com um ingênuo sorriso de homem tímido e carente que, aquilo era meu passaporte para o casamento. Eu sentia-me a última vestal, ao lado do meu guardião, o primeiro que iria me possuir. O dono da chave do meu cofre.
Sabe querida tia, à medida que o clima foi esquentando, ele inesperadamente começou a falar, no meu ouvido, frases grosseiras e pervertidas que, eu nem tenho coragem de repetir...
-Fala minha sobrinha, não me esconda nada. Eu já ouvi tudo, daquele cachorro do seu tio.
-É muito traumático para mim...
-Fala, vai te fazer bem...
-Pois então, chamou - me de vaca, repetidas vezes. E de galinha, também. Disse que eu estava parecendo uma baleia branca e fria do pólo norte.
Incitave-me a ter comportamentos devassos, me chamando de prostituta, depois meretriz, e finalmente daquele substantivo feminino chulo, que é um sinônimo, de quatro letras. Eu não vou repetir, tenho vergonha...
-Eu sei qual é querida. Seu tio, aquele velho demente, mulherengo e sem vergonha, continua a me chamar disso, todo os dias: puta!
-Então tia tenho horror a esta palavra e, ele aos berros ordenava que eu mexesse, abrisse, fechasse, rodasse, pulasse, virasse... Ah, que coisa desagradável. Parecia um senhor de engenho mandando nas suas escravas. Exigiu que eu pedisse para que ele me arrebentasse toda e gritasse que ele tinha um tronco de gibatão. Eu nem sei o que é isso...
- Minha sobrinha, gibatão é uma madeira de lei muito dura usada na fabricação de postes. Eles são muito pretensiosos! Seu tio exige que eu diga que ele é um pica-pau. Pois sim, é uma rolinha e muito mixuruca coitado!
- Aquilo, foi me irritando tia e, de repente, resolvi sair daquela posição passiva e idiota e partir para o ataque.
Agarrei-lhe os cabelos, enfiei-lhe a língua lá dentro da garganta, dei-lhe duas bordoadas de mãos abertas nas nádegas, disse que ele era um frango atrevido, dei-lhe outra pancada no saco e comecei a pular de forma tresloucada e incontida em cima da barriga dele.
Além disso, tudo que estava próximo das minhas mãos eu pegava e ia enfiando-lhe na boca, e já nem sei mais onde...
-Como não sabe?
-Sei lá tia, era buraco, eu ia enfiando os troços...
-Quais? Suplica a tia.
- Fui enfiando, sei lá ...
-Mas era ele quem tinha que enfiar! - pondera a tia sábia e bisbilhoteira.
-Pois é. Lembrei-me de ter lido sobre aquele tal de sessenta e nove, mais não conseguia fazer mais nada, nem o setenta, muito menos o noventa.
Comecei a gritar palavras de ordem tipo: “reaja!”, “mostre ao que veio seu galinho garnisé metido a machão!”, “vai fundo, seu amostra grátis!”.
De repente, olhei para ele e estava estupefato, com uma cor roxa, meio azulada, seu corpo estava gélido, trêmulo e num ato de desespero começou a gritar:
- Sua virgem vagabunda, onde é que você aprendeu tudo isto? Enganou-me todo esse tempo. Pra mim você era uma vestal! Devassa, devassa, devassa!! - finalizou ensaiando uma crise epilética!
E a tia, finalizou de forma pedagógica:
-Esta é a síndrome do corno-maçaneta: aquele homem que pensa que todo mundo já meteu a mão na sua mulher e entrou sem pedir licença.
Eles são todos iguais. Provocam para que as mulheres tenham um desempenho das mais experientes prostitutas na cama e, quando elas se tornam, ficam querendo saber quem as ensinou. Quanta insegurança! - finaliza a tia dizendo que ligava depois porque o arroz estava queimando!