Salofena Maria, filha de uma conservadora família de Bangu, subúrbio do Rio de Janeiro, era mulher que fora treinada, em tempo idos, para ser uma esposa devotada, mãe exemplar e dona de casa que se virasse mais do que frango assado em forno de porta da padaria, para manter as coisas em ordem e tudo sob controle no seu lar.
Quatro filhos em idade escolar e feitos um atrás do outro
com muito amor e carinho por aquele casal procriador por excelência, ele um
caixa de banco, ela uma professora primária que, nunca chegou a exercer a
profissão.
Sobrava naquela casa muito trabalho e pouco dinheiro para
manter aquela bagunça que Salofena Maria, apesar de sua bravura e dedicação,
não podia fazer melhor e, por esta razão vivia sempre sob as acusações
descabidas e injustas de Deoclécio Mauro um sôfrego e estressado homem que só
via dinheiro, quando começava a trabalhar no banco ou imaginava o que tinha
dentro daquelas caixas eletrônicas da sua agência, isto quando também, elas não
estavam arrombadas, como ele!
Para variar, Salofena Maria era mais agitada que minhoca em
areia quente, faladora compulsiva e Deoclécio Mauro quase um vodu sempre
cansado e com olheiras explícitas, calmo por necessidade de sobrevivência, mas
mesmo assim, as brigas eram constantes.
-Escute aqui, “Mormaço” – assim ela chamava seu calmíssimo
esposo – acabou o gás do fogão, entupiu a pia da cozinha, queimou a resistência do
chuveiro elétrico do nosso banheiro, não tem macarrão, óleo, feijão, as
crianças precisam de sapatos para ir à escola, e minha mãezinha vem passar uns
meses aqui em casa, pois, está deprimida e já tentou o suicídio, duas vezes na semana
passada. Temos que comprar cama e armário para ela! Não vou abandonar minha
mãezinha, nunca, portanto mexa-se! – foi logo comunicando Salofena Maria.
O maridão vivia escutando estes tormentosos problemas e que
eram diários, sempre de pé e com a mão no bolso, numa atitude pacífica, apesar
de estar constantemente, resmungando e reclamando “civilizadamente” da mulher, parecendo
querer esconder a mão nos bolsos, para que não houvesse dúvidas de que ele
jamais as usaria para bater na esposa.
Deoclécio Mauro era, além de calmo, um pacifista nato e, por
esta conduta assemelhada a uma estátua de praça pública, irritava muito sua
espavorida e inflamada mulher que sempre terminava qualquer reivindicação
quebrando algum prato ou objeto doméstico assemelhado.
E respondeu o marido:
-Fique tranqüila, tudo será resolvido na paz e sem motivos
de desesperos.
-Você sempre fala isso, “Mormaço” e nunca resolve
nada.Lembra que o telhado está todo quebrado e quando chove é uma pingação
danada aqui dentro de casa, há mais de dois anos?
-Vou consertar... Tenta reagir Deoclécio Mauro.
-Vai nada, sempre com essa mão no bolso parecendo um paspalhão.
Cara estou ficando muito nervosa com isso tudo, estou me sentindo despentelhada
com tantos problemas.
Despentelhada ouviu?
E neste momento, Deoclécio Mauro, ao ouvir aquela palavra
mágica, puxou violentamente o último fio de cabelo que ainda restava lá por
baixo na sua sofrida região pubiana, pois sempre e a cada discussão com a
Salofena Maria ele, com mão no bolso, parecendo estar absolutamente calmo,
estava na verdade arrancando e vigorosamente, um por um daqueles seus sofridos
e cada vez mais escassos pêlos pubianos, até que agora, finalmente não sobrara
mais nenhum.