A era da informação tem proporcionado a humanidade
saltos tão espetaculares que seria impossível abrir mão desta parafernália
tecnológica sem nos sentirmos órfãos das excepcionais comodidades conquistadas
em todas as áreas do conhecimento.
O famoso escritor futurista George Orwel, no seu livro Mil novecentos e oitenta e quatro, conta a estória de uma sociedade na qual o
poder central possuía completo domínio sobre as pessoas. Era o Grande Irmão (Big
Brother), o cérebro do sistema. Outro que merece citação é Aldous Huxley, em O Admirável
Mundo novo escrito em 1931,
descreve naquela ficção cientifica na qual, a servidão ao sistema governamental
tornou-se compulsório, mediante a ingestão pelos habitantes, de uma droga
chamada Soma que, provocava uma
sensação de grande felicidade e absoluta submissão ao poder central. Aquela pílula
da felicidade e submissão de Aldous Huxley tem tudo a ver com a Senha da era da informática.
É
impossível, guardar na memória todas as espécies de senhas. Até porque, já
existe, a senha da senha. E por ai
afora! E neste grande circo da informática, coloquei meu cartão no caixa
eletrônico e a primeira tela avisava que, para a máxima segurança da operação
eu deveria encostar meu olho direito num visor situado à esquerda da tela para
leitura digital da minha íris.
Coloquei. Logo em seguida, apareceu uma outra
tela dizendo que a operação tinha sido anulada. Pudera, só para irritá-los
fechei os olhos! Em substituição, solicitava que eu me submetesse ao processo
de leitura ótica da minha arcada dentária. Desta vez tinha sorri feito um
imbecil frente ao monitor. Negado.
Realmente, desde a última vez a que me
submeti a este ridículo controle tinha feito um tratamento dentário e colocado
três novos pivôs, uma ponte móvel e duas obturações, não catalogadas no sistema
existente.
Para que eu não corresse nenhum outro risco na alternativa de ter
acesso ao meu dinheiro, foi proposto
que eu deveria fornecer os seguintes dados: números ímpares do meu CPF; data de
nascimento do Fernando Collor de Mello quando confiscou o dinheiro das
cadernetas de poupança; os três últimos números da senha do meu cartão; os dois
primeiros números da minha senha eletrônica multiplicado por oito; do código e o
numero de maçãs que Isaac Newton viu cair, até descobrir a lei gravidade.
Finalmente, e após ter cumprido as exigências
que talvez, nem Malba Tahan - autor do famoso livro “O homem que calculava” -
conseguisse, tive acesso à tela do banco que perguntava quanto desejava sacar,
prevenindo-me, no entanto, que naquele momento, o sistema só estava operando
com múltiplos de cem reais e saques, de no mínimo, um mil reais. Só podia ser brincadeira!
Usei o telefone de emergência, e ouvi uma suave e simpática voz feminina:
- Seja bem-vindo ao nosso serviço de atendimento rápido.
Daremos cento e treze opções para que o senhor digite uma, “a qualquer momento”,
de seu interesse. Digite um para sugestões, dois para tentativa de saques
rechaçados, três para reclamações,quatro para sair, cinco para entrar...
- Oba, digitei “a qualquer momento”, sem precisar
ouvir as outras cento e dez opções. E continuava a gravação:
- Se a reclamação for contra o banco desista, caso
tenha esquecido qualquer uma das suas dezesseis senhas de acesso, digite oito;se
estiver com dificuldades operacionais, digite 113; se sua conta,ainda estiver
no vermelho digite 171. Finalmente,caso,deseje falar,diretamente,com uma das
nossas 52.645 atendentes digite @.
Pronto, disse eu, é agora! Digitei o tal
arrouba , esperando não ser outra roubada. Uma gravação, educadíssima, sentenciou:
-Prezado cliente, o tempo de espera para falar com
uma das nossas atendentes é de duas horas...
-Ora, vão pra... - finalizei, desligando e exausto,
porém, certo de que lugar de guardar dinheiro – como sempre diziam nossos avós
– é realmente, debaixo do colchão.
Irritante,demais!