Já tive muito mais medo da morte do que atualmente, e
explico.
Quando pensava nela, via-me dentro daquele caixão abarrotado
de flores branca e só meu rosto disponível para o ultimo adeus do respeitável
público da minha parentela próxima e amigos em geral.
Algo que sempre me intrigou é inevitável aparência quase
angelical e suave de quem parte. Depois descobri que o profissional que prepara
os defuntos, coloca em geral um suave sorriso na boca do extinto e até uma leve
maquiagem, no cara que cantou para subir, deu o último suspiro, foi pro saco,
bateu as botas, essas coisas que dizem e, então, ele fica com certo ar de tranqüilidade e até... Felicidade
no rosto.
Que crueldade!
Eu nestas minhas incursões obsessivas sobre minha própria
morte me via no meio daquelas horrorosas coroas nas cores uniformizadamente
roxas com faixas em letras douradas tipo: “Descanse em paz”, “Saudade de seus
amigos” e outras mais atrevidas que, nem eram expostas como as que dizem que,
”Vou cobrar suas dívidas da sua esposa” e até as ofensivas adjetivando o morto
de ”Galinha” e, quantas outras verdades e inverdades. Para variar sobrevoando
as flores das coroas e atraídas pelo seu néctar, imaginava aquela contumaz invasão
terrorista de abelhas, em sobrevoo rasantes e um zumbido infernal em meio aos
pesarosos e contritos, agora ameaçados, membros daquele grupo.
Chegava a sentir o odor desnecessário de vela queimando, o
olhar de alguns parentes que até mesmo, odiavam o cidadão agora em decúbito dorsal,
aquela fatídica mulher desconhecida da família, encostada num cantinho da sala
e os inevitáveis cochichos das fofoqueiras habituais:
-Quem é aquela?
Enfim, fecha-se a tampa do caixão e lá fora um sol
escaldante. Convida-se então para que, a tropa siga para a última morada e seis
bravos voluntários seguram as alças do caixão e lá se vão alamedas acima, todas
com muitos pés de mangas. A manga de cemitério é a melhor de todas pela sua
doçura, consistência e abundantes de nutrientes.
Estamos nos momentos finais e a família chora
desesperadamente, alguns desmaios, e outros não contêm os choros mais altos e
todos estão agora vendo o caixão abaixar e pronto, abaixou.
Vem a pior parte, pois um cara com uma caixa contendo cimento
e uma pá fecha tudo bem direitinho, para não deixar nenhuma abertura e agora eu
pergunto: E se o cidadão sofrer de Catalepsia que é um estado de sono profundo,
no qual os batimentos cardíacos ficam tão fracos a ponto de se tornarem
imperceptíveis?
Quando imaginava isso tremiam minhas pernas, pois, já foram
muitos aqueles que até levantaram do caixão ou à noite ouviu-se um barulho no
jazigo do distinto e quando foram ver o corpo estava virado ou forçando a tampa
para sair.
Casos clássicos no Brasil foram os do cantor Paulo Sergio e
o ator Sergio Cardoso, que teriam sido enterrados vivos. Que horror, mas podem pesquisar!
Então, catalepsia à parte, diante de tudo isso eu sempre
tinha uma visão da morte, “vendo” aquilo tudo, toda aquela parafernália de
tristezas e choradeiras, como se ainda eu estive vivo.
Mas fiquei muito tranquilo,depois que me conscientizei que
morto não vê nada!
Parece bobagem, não é?
Porém, de bobagem em bobagem é que a gente vai morrendo em
vida até descobrir que elas são realmente isso: Bobagem.
Quer que eu minta?