AS NOVAS IDOSAS.

                                             



Nestes dias que o sol bota, literalmente, para correr todas as nuvens do céu, e fica tão limpo que você consegue ver até as amídalas dos astros, resolvi refestelar-me, na pracinha, ao lado da minha casa.
Sentei-me no meu banco preferido. Logo em seguida, uma senhora, cuja idade era algo indecifrável, senta-se ao meu lado e faz um cumprimento com a cabeça. Respeitosamente, respondi.
Pediu-me detalhes de onde ficava da minha casa, se morava por ali, enfim. E foi logo garantindo que eu podia ficar tranquilo que uma velha de oitenta e três anos – pronto, acabou-se o mistério quanto a idade daquela idosa - já não pensava mais em sequestrar ninguém. A seguir, vieram então as chorumelas comuns e normais, destes tipos de situações: Dores, dores, dores e mais artroses, artrites, hipertensão... Afinal, pessoas que já viveram tantas décadas têm o direito de acumular muitas e variadas doenças
Disse-me a senhora:
-Sentia tantas dores nos ossos que, em certos dias mal conseguia levantar da cama...
-Lamento – interrompi,
 Lembrei-lhe então que existiam ervas muito boas para dores ósseas como a unha de gato e a cavalinha. E ato contínuo, recomendei-lhe também um tratamento homeopático aliado a acupuntura.
A resposta veio logo:
- Com oitenta e três anos, você acha que eu não conheço isto? - rebateu com certa indignação e continuando:
- Olha meu amigo, se erva fizesse bem, cavalo, bode, cabra e outros ruminantes que comem isto o dia todo, seriam imortais. Conversa fiada! Já me receitaram até chá de picão. Imagine uma mulher na minha idade tomar este troço! Eu sou velha mais não,sou devassa. E com a força de argumentos de um palestino suicida, rumo à derradeira missão continuou:
- Homeopatia e ervinha, são muito boas para o médico e as farmácias que manipulam aquelas coisas tipo, bolinhas, pozinhos, tinturas e não sei mais o quê. Tudo papo furado!-finalizou revoltada.
 Argumentei que pessoas “mais vividas” davam preferência a chás e outras coisas do gênero, para evitar efeitos colaterais indesejáveis. Ela Concordou e disse:
- É verdade, você tem toda razão. Mais não é o meu caso. O que adianta não ter efeito colateral, pelo fato desta coisas também, não fazerem nenhum efeito?  
Eu curei minhas dores com uma medicação chamada Sulifratel que contem uma substância chamada 
dexobulimatrinolorotirileno de argônio, produto tecnológico de primeiríssima geração fruto de inteligência artificial sintetizada a partir da molécula de hidrogênio, contida no esporo do centeio canadense que é uma droga sintética  e  definitiva nestes tratamentos...
- Esporos de onde, minha senhora? - perguntei aturdido
-Do centeio canadense. O Sr. tem problema de audição? - inquiriu.
- Não, não tenho... quer dizer, acho que não tenho, apenas...
-Veja que maravilha! Eles estão associando esta substância ao ribanoflonuvinalato de potássio hidrogenado em emulsão de submoleculas radioativas fracionadas e mais o equivalente a dez miligramas de lítio, pois descobriram que separadamente, estas substâncias produzem o sinergismo suficiente para agregar a parte externa óssea e estabelecer uma espécie de proteção gelatinosa que evita a dor e outras manifestações. Mas, ainda são substâncias experimentais. O que eu uso mesmo é um remédio importado da Coreia do Sul à base de fenilorganotripsinase injetável, via intravenosa com soro glicosado infiltrado de cobre e moléculas ferrosas ativadas. Acaba com a dor. - finalizou.
Assustado e com cara de paisagem pensei que na flor dos meus quarenta anos, vivia  tomando chazinhos caseiros que julgava infalíveis! Fiquei na minha e de mansinho fui levantando e me despedindo:
- Bem, minha senhora, vou para casa tomar meu xarope de mel com agrião, pois estou querendo ficar resfriado...
- Homem, não vá se enganar, tome um remédio decente...reagiu em tom de 
-Não, obrigado, eu ainda sou muito tradicional, nestas questões de saúde, tchau-Saí meio desmoralizado.
Ao distanciar-me, virei-me para traz e ela ainda estava balançando a cabeça, em sinal de absoluta e definitiva reprovação ao meu conservadorismo farmacológico e minha ignorância ao novo arsenal medicamentoso.
Aliás para ser sincero, uma coisa eu concordei com ela integralmente, pois nunca gostei mesmo de tomar o tal chá de picão!