A DEUSA DO RESTAURANTE



Uma mulher, alta e Loira com ar de gerente-executiva, sentou-se à mesa de um restaurante no centro da cidade, em frente a que eu ocupava.Eram aproximadamente, treze horas. Estava só, ou melhor, acompanhada de dois telefones celulares e um laptop. Pele bonita e rósea, tratada evidentemente, com os melhores produtos à venda neste eclético paraíso de cosméticos cuja, excentricidade dos produtos, hoje oferecidos, vão desde o creme de leite anti-rugas de ovelha prematura da África do sul, até a loção de seiva, da ova de caranguejo macho australiano e, que serve para qualquer coisa! Sim, aquela massa corpórea era uma única e preciosa peça que a engenharia divina teria deixado escapar caprichosamente, da sua tornearia de fazer belezas. Uma dádiva dos céus. Ali estava uma máquina infernal, moldada com o carinho que se fabrica uma Ferrari Testarossa. Um clone de deusa que escorregou das alturas sagradas do Olimpo grego.Olhou-me. Simplesmente, olhou. Garanto-lhes, no entanto, que ela não deve ter gostado do que viu pelo ar impassível e displicente do seu rosto que, aliás, abrigava um nariz aquilino , empinado o necessário para demonstrar certo ar de atrevimento , e bem mais lá por baixo, magistrais coxas que, mesmo cobertas, para um bom conhecedor, poucas curvas bastam para se imaginar o conjunto da obra.Ao sentar-se, o fez com a elegância de uma garça, jogando todo o cabelo para trás. A mulher quando mexe, balança, e ajeita muito o cabelo, esteja certo, está insuando sua sensualidade e expondo-se ao corpo- a- corpo.Chamou o garçom pedindo sugestão de uma comida bem leve. Instintivamente gritei:


- Eu... Eu insisti! Estou vinte quilos abaixo do normal. Comida mais leve não existe. Não tenho nenhuma gordura, pouquíssimos açucares mínimos carboidratos, colesterol zerado e pouquíssimo sal. Estou, praticamente, desidratado, principalmente, depois deste verão tórrido aqui no Rio de Janeiro.Todos olharam para mim. Lembro-me ter ouvido uma agressiva manifestação verbal. Era alguém me chamando de babaca. No entanto, eu estava dizendo a pura verdade. Por outro lado ,não sou tão grande assim. Bem cortado, daria certinho dentro de um prato raso ou, mesmo de sobremesa. Bem, fantasia à parte, imediatamente, caí na realidade, e a loira de boca num copo de vinho tinto. O garçom sugeriu-lhe um caldo verde com torradas, o que foi imediatamente aceito por ela.Chamei o meu velho amigo garçom, e ao seu ouvido sussurrei:




- Leva estes restos de rabada nojenta e pegajosa da minha mesa. Isto aqui está parecendo um campo de batalha.Limpa a toalha. Parece que eu andei chafurdando num chiqueiro. Esconde esta garrafa de cerveja. Bebida de pobre! Educadamente, o garçom respondeu:

- Sim senhor, douuuutor!Percebi que a palavra “doutor”, sobressaiu, propositadamente, muito mais alta na frase e pronunciada com um inusitado vigor. Entendi o propósito. Apesar da “força” do amigo garçom, naquele momento, ela estava falando com os dois celulares ao mesmo tempo. Eram celulares tão pequenos que se ela não tomasse cuidado, poderia engoli-los junto com o caldo verde. De repente nossa loira, aveludada, macia, exalando um odor de fêmea no cio, deu uma cruzada de pernas tão generosa que pude sentir até a textura, singeleza e maciez daqueles pelinhos loiríssimo, tipo pêssego, e que certamente povoavam seu corpo, em regiões muito mais generosas e interessantes a serem exploradas. Apesar do pouco que já tinha visto, estava muito grato e satisfeito aos deuses do amor, da felicidade e da beleza e por que não dizer, com a libido batendo palmas! Em seguida, o garçom trouxe-lhe o caldo verde e, enquanto ela o sugava, algumas tiras um pouco mais longas de couve que, boiavam naquele néctar de batata, ficavam penduradas entre os seus róseos e carnudos lábios e o prato. Com a perfeição de uma autêntica profissional da degustação, ela os levantava com a ponta da língua enrijecida e os chupava ainda mais, vigorosamente - nossa, chegava a arrepiar! - para dentro da boca, como se fossem longos pedaços de sedução!Uma mulher como aquela na guerra do Peloponeso, por exemplo, lutando ao lado dos 300 de Esparta com um modelito de couro provocativo e aqueles enormes seios arremessando-se para frente , implorando liberdade, jamais teria perdido a batalha para os Persas. Quem iria prestar atenção naqueles soldados gregos cabeludos? Xerxes, o valoroso comandante persa, seria o primeiro a se enfiar com ela em qualquer brecha do Estreito das Termopilas , abandonando a batalha e mandando aquela guerra chata e calorenta, literalmente, para casa do cassete .Nestes meus devaneios, fiquei distraidamente, tirando com a ponta da unha, um pedaço de carne da rabada que havia ficado presa entre os meus dentes, quando o garçom amigo e, torcendo pela minha vitoria, alertou-me para o fato de que eu estava parecendo um animal ensandecido, ao ficar cutucando os dentes. E foi taxativo:

-Nem a unha, nem palitos, por favor.

Ainda alertou-me que o zíper da minha calça estava aberto. Era natural, pois a pressão externa era cada vez maior. Sentia fogaços por todo o corpo apesar, do ar condicionado. Enquanto isto, a loira já tinha terminado seu discreto e leve jantar.Chamou o garçom. Perguntou-lhe onde era o toalete. Levantou-se e foi na direção indicada. Instintivamente, levantei-me, também, indo ao seu encontro,quando uma grande, pesada e providencial mão do nosso querido garçom, puseram-se sobre os meus ombros empurrando-me, vigorosamente, contra o assento prevendo minhas mórbidas intenções.Ao voltar do toalete, pediu a conta. Recusou o cafezinho. No entanto, solicitou uma determinada marca de charuto. O garçom disse que não tinha, mas na tabacaria ao lado, certamente, deveria ter e que ele mandaria comprar. Minutos depois chegou o tal charuto, que pelo tamanho e grossura parecia ser mesmo um míssil cubano. A loira então, tirou delicadamente, o invólucro de papel idêntico a um anel daquele roliço artefato, deu uma dentadinha bem na ponta do charuto, e eu instintivamente senti um forte pulsar nas chamadas partes baixas, a ponto de verificar que o zíper tinha aberto novamente.Fechei-o!Pediu ao garçom para acender e ele desmanchando-se em desculpas disse que não era permitido.

-O quê? Quem vai me proibir de fumar? - replicou a fêmea em cólera.

-Minha senhora, a gerencia, infelizmente não permite - ponderou o garçom.- Pois bem, chama este gerente idiota , porque vou dizer-lhe umas verdades cara a cara! Eu fumo charuto desde os dezessete anos quando meu pai ainda era fazendeiro lá nas terras do Rio Grande do Sul. Tenho que fumar depois das refeições, senão enlouqueço e sou capaz de quebrar esta porra toda!Atônito, sem ter a mínima noção do que fazer o garçom se retirou em direção a gerencia. Enquanto isto, alguns clientes começaram a gritar de forma provocativa:

- “Fuma, fuma, fuma!”. E a outra banda podre, bradava: “quebra, quebra, quebra!” .Aquela reencarnação grega era, sem dúvida nenhuma, a verdadeira deusa Afrodite ou quem sabe, HeIena de Tróia. Desesperada a fumante gritou ensandecida:


-Faço um escândalo, tiro a roupa nesta espelunca !- Esbravejou.
Aí foi demais. Ante aquela santa ameaça, meu zíper explodiu!

QUATORZE DE MAIO


Certos diálogos deveriam chamar-se de triálogos, tal a sua singular característica, seja pela inesperada conseqüência ou porque transformam vidas, demonstram cruamente realidades e, principalmente apontam para os seres humanos, como eles caminham muito próximos da

bestialidade irracional. Exemplo?


Acompanhem este curto e grosso diálogo, entre a esposa gentil e educada e o marido um pouco, talvez, muito estressado, logo de manhã ao acordarem.


-Benzinho, sabe que dia é hoje?- Pergunta a mulher com voz meiga e insinuadora.


-Que dia o quê? - ignora o marido.-Meu adorado, calma. Sem estresse. Deixa eu te fazer uma massagem.


-E se durante a massagem eu...


-Aí eu também... (risos, muitos risos, verdadeira tempestade de risos!).


-Faz aquela massagem...-Já sei amor. Mas “aquela” não é massagem, chama-se masturbação, não é queridinho? Vamos dar os nomes certos, para as coisas certas. Eu falei massagem, mesmo!


O que você está insinuando é...-Chega professora, Kama Sutra. Mas faz... (novamente, risos, muitos risos e algumas gargalhadas!).


-Lógico amor, mais enquanto eu faço diz pra mim: que dia é hoje querido?-Depois eu lembro...-Eu lembro pra você, hoje é dia quatorze de maio...


-Certo quatorze de maio, mais continua, não pára...-Êta, homem sem graça, não faço mais nada...


-Está bom desculpe.Os dois se levantam e ele a segura pelo braço e a arrasta até sua escrivaninha, liga o computador, vai à sua agenda e vê que no dia quatorze de maio é dia de pagar a luz, o Iptu, telefone e o cartão de crédito. Vira-se para a esposa e pergunta :


-Até que horas mesmo é possível pagar estes troços?-Até as vinte e uma horas, mais ainda não são nove horas da manhã.


-É mais eu vou pagar logo isto, depois da massagem, ta queridinha?-Negativo, acabou massagem, masturbação, sexo, sacanagem, acabou tudo...-Mais benzinho. Ta bom eu pago depois , vem cá...


-Tira a mão de mim “seu” sem graça, chato, você perdeu o romantismo, a memória, nosso casamento está um lixo.-Lixo?


Eu acabo de acordar, você me pergunta que dia é hoje, a gente descobre que é quatorze de maio.


-A gente é uma ova, eu digo que é...


-Está bom, grandes coisas você se lembrar que dia é hoje, porque eu e que me lembro que é dia de pagar um monte de despesas e boletos, me disponho a pagar, e agora você fica histérica, por quê? Se eu pago tem briga, se não pago tem briga. Estou ficando de saco cheio deste nosso relacionamento...


-Então, pé na rua. Telefona pra aquela tal de Lílian...-Não, Lílian outra vez não.-Então a Marta ou Judith...


-Mas são as minhas primas...


-Que você já comeu sim!-Meu Deus, como você tem a cabeça doente...


-É melhor ter a cabeça de cima doente, do que ter a de baixo, como a sua: imprestável!-Eu sou muito macho, ta ouvindo?-De ouvir eu já estou cansada. Quero é ver, sentir e comprovar.-Ah, ah, sentir!Na cama, o máximo que você sente, é o tempo passar...


-Mulher precisa de homem...-E homem precisa é de mulher. Vou repetir: mulher!


-Quem é homem aqui?-Eu, muito homem, você é que só pensa em estourar meu cartão de crédito, comprando estas bugigangas aqui pra casa...-Também com aquela mixaria de crédito que você tem, estoura logo. Fique sabendo que o crédito do cartão do marido da Laura é dez vezes maior do que o seu...


-Eu quero que o marido da Laura vá pra...


-Olha seu desbocado, para com esta mania de palavrões.Um rotundo, silencio, domina o ambiente que, logo é preenchido por uma rajada de choro daquela pobre mulher que entre uma puxada de catarro e outra balbucia:-Seu ingrato, hoje é catorze de maio, dia do seu aniversário...


-Quatorze... Meu Deus, meu amor, me desculpa!E aí, começam acaloradas massagens bem mais amplas e generosas, calientes e avassaladoras. Que lindo! Entre soluços, tosses e espirros, ambos começam a ficar com os rostos, fartamente, lambuzados de lágrimas e salivas um do outro, quando de repente a porta do quarto de abre, o casal se cobre rapidamente, e aquele maravilhoso menino, orgulho e filho do casal grita :


-Papai, hoje é dia quatorze de maio...
-Eu sei meu adorado filho...
-Se já sabe, então não se esqueça de pagar a escola.Tchau!

PAULO, A LIGAÇÃO ESTÁ HORRÍVEL.