CRIANÇA FALA A VERDADE!



-Pera, uva ou maçã?- perguntou meio encabulada a menininha da casa em frente. 
-Damasco – respondeu Paulinho mordendo o lábio inferior e cheio de água na boca. 
-Mamãe o Paulinho não sabe brincar - gritava a menina. 
 A mãe dela então, chegou à porta de casa e com elegância e suavidade inquiriu o Paulinho, amigo da sua filha pra todas as horas.
 - Damasco por quê? 


Paulinho baixou a cabeça, fez caras e bocas, pois estava muito ofegante e envergonhado. Mais ofegante do que envergonhado. Seu rosto parecia um tomate. 
Ele sentia um calor pelo corpo que o deixava sem jeito. Vontade de entrar num cubo de gelo. 
Sentado feito um pequenino Buda na calçada, as suas trêmulas mãozinhas comprimiam-se entre as pernas empurrando o pequeno, porém inevitável problema - que não obedecia mais seus pensamentos de censura – para baixo. E não estava com vontade de fazer xixi.
 -Fala Paulinho! Foi mais incisiva a mãe da menininha chorona. Paulinho levantou a única cabeça que ainda o obedecia. A que poderia ser exposta para uma degola inevitável. Enxugou com o lado de fora das mãos, esfregando no nariz uma pequena quantidade de ranho que descia de forma inoportuna. Pensara em oferecer logo sua orelha para o merecido puxão. 



Aos oito anos de idade ali estava o seu maior e desconfortável desafio. Jamais pensou que tão cedo haveria de deparar-se com situação tão constrangedora. Não tinha nada que falar damasco. Aquilo não fazia parte da brincadeira. Ele tinha estragado tudo! 
- Desculpe, eu não deveria ter falado a verdade. Tinha que continuar brincando como fazem todas as crianças da minha idade.Eu gosto muito de brincar com sua filha... Falava Paulinho entre alguns soluços quando foi interrompido pela mãe compreensiva da menininha chorona. 
-Hei Paulinho. Também não vamos exagerar. Apenas foi um mal entendido.Você aos invés de escolher pera, uva ou maçã, falou damasco. Não tem mal algum. Todo mundo se atrapalha... 
-Não me atrapalhei não, interrompe o Paulinho. 
-Como assim?- indagou curiosa a mãe da menina chorona. 
-Falei a verdade,pois eu ouvi a conversa do meu pai, com a senhora.
-Que conversa. Paulinho? 
-Eu não quis escutar, foi sem querer.
-Que conversa?  Fala logo meu filho. Sou toda ouvidos!



-Ontem a senhora não estava conversando com o meu pai, debruçada no muro do nosso quintal? 
-Sim, Paulinho. E daí? 
-Pois, é. A senhora não disse para ele que o seu nome significa damasco? 
-Disse, meu nome Damascena, ,quer dizer damasco...
-Então, depois que eu soube, não me interesso mais por esta brincadeira que só tem pera,uva ou maçã.Desculpe!