OU SEXO, OU FUTEBOL !

Algumas coisas decididamente não combinam com sexo.Enxaqueca, dívidas impagáveis, cachorro latindo na porta do quarto, vizinho brigando, calor carioca de quarenta graus acompanhado de forma sinistra por falta de energia elétrica e, na hora do futebol.Não inventa que vai se dar mal. Mas, como diz o velho ditado: ”Cada cabeça, uma sentença”, vamos aos fatos:
-Querida chega mais - diz o parceiro com cara de carente.
-Pois sim! De jeito nenhum, o jogo da seleção está começando e você só quer fa
zer um gol rapidinho, e eu? – corta totalmente o barato, aquela mulher que apesar de nunca ter usado chuteiras, sabe como dar um bico na canela do adversário!
-Que seleção, meu amor.Estou afim é de dar uma goleada nesta sua defesa – insisti o testosterona.
-Nada disso. Mesmo sem futebol a sua bola está cada vez mais murcha, imagine com a seleção brasileira jogando! Foguetório e gritaria lá fora.Apaga este facho, homem.Depois do jogo a gente coloca n
osso time em campo.
No entanto, a sabedoria daquela mulher é atropelada pelo touro no cio que vai até a sala, e empurra a televisão até o quarto. Liga e se esparrama na cama, como um sultão à espera do seu harém.
-Coisa mais chata - reclama a mulher -com você tem que ser tudo na hora que você quer!
-Não é isso meu amor, entre você e a seleção, não penso duas vezes.
-Lógico, fica com o jogo da seleção!
Conversas à parte, os dois já estão literalmente deitados e se enrolando no campo das grandes decisões amorosas. A mulher então, pede para desligar a televisão e o cara não permite. Ele diz quer escutar a hora que vai sair o gol.Ela de forma sábia retruca que:
-É sai o gol e eu entro pelo cano.Se for para escutar, liga então o rádio.
Na verdade o que ela quer ter, e merece, e a atenção do macho predador, pelo menos nesta hora. Como toda mulher quer ter preliminares prolongadas, para entrar no clima do jogo absolutamente, aquecida.Não dá certo fazer sexo com a seleção jogando.Mas, está bem ela perdeu, então vamos aos jogos, pensa ela.Seu companheiro está um pouco gordo e, por isto sempre pede para que ela facilite aquele maravilhoso evento carnal, ficando por cima da situação.Kama Sutra descreve assim a posição como sendo a do Par de Tenazez: O homem fica deitado de costas e a mulher montada nele, de frente...Só que naquela época não tinha televisão! Com plena visão do jogo na televisão, o apressadinho machão, começa então o rala e rola e coisas surpreendentes acontecem em campo e na cama.
Acabados os dois jogos ela então comenta ambos, para o marido:

-Quando a seleção perdeu o pênalti, você cravou as unhas nas minhas costas, seu safado!Olha como estou toda aranhada.
-Mas, amor...
- Cala a boca.Eu fiz o que você queria, agora vou comentar os dois jogos.Ainda no começo do primeiro tempo o Brasil perdeu outro gol cara a cara, e você ficou completamente sem bateria.Se fosse uma lanterna não acenderia, um celular não falaria...
-Não eu apenas estava arrumando, realinhando, reposicionando...
-Broxando, isto sim – diagnosticou - E tem mais, muito mais, pois você nunca gostou deste negócio de tapinha de amor não dói, e levei praticamente, um soco nos peitos quando o Brasil tomou o primeiro gol.Olha aqui como está tudo roxo!
-Querida...
-Querida é o cassete! Não foi por falta de aviso.Ou a gente faz amor ou vê futebol
Irritado e desmoralizado o cara parte para ofensiva:
-Ah é, muito bem.E como é que você sabe que aquilo foi naquela hora do jogo, e aquilo outro no outro momento da partida? Você é uma mentirosa.Ta vendo!
-Mentirosa, não, eu também estava vendo o jogo pelo espelho em cima da cama seu idiota! O que é pior foi você ficar gritando feito um louco: vai, vai, vai...
-Você sabe que eu tenho a mania de ficar repetindo isto, quando a gente está transando...
-Eu sei, só que meu nome não é Robinho!

NO BRASIL FICOU O MELHOR DOS BRINQUEDOS.

-Papai, me leva pra Disneylândia?
- O que garoto? Ficou maluco?
Ao chegar em casa ainda cheirando ao suor de todos os outros corpos que vieram se esfregando no dele, dentro do mesmo trem que diariamente viajava e sempre empanturrado de gente dependurado nas portas,sufocando e amassadndo uns aos outros de todos os jeitos ,aquele pedreiro, trabalhador e incansável havia escutado o mais um inusitado pedido do filho que, ele poderia supor, na sua simplicidade e pobreza.
-Disneylândia, meu filho? Papai é um pedreiro, não tem dinheiro pra nada.Saio de casa quatro horas da manhã e volto agora, às nove horas da noite.Ganho muito pouco, filhinho. O que ganho é insuficiente até para comer e comprar umas roupinhas para você e sua mãe.
-Pôxa,então deixa de comprar comida pra mim.Compra só pra mamãe.
-Filho aí você morre.
-Eu vou morrer é se não for a Disneylândia.Retruca o menino chorando.
-Deixa de bobagem. Um dia, papai vai pensar nisso.
Também, com lágrimas nos olhos, o pai pedreiro, mãos cheias de calo, abraçou sua mulher e ambos ficaram agarrados, soluçando, babando-se, melando-se.
Ela vez por outra assoava o nariz na camisa dele.Uma cena patética.Pateta, não.Era patética mesmo!
O menino já tinha ido para cama dormir e o pai, durante a viagem de trem, a cada solavanco pensava em antes de dormir, dar uma aliviada com a patroa.Fazer uma coisa diferente do que assentar tijolo.Mas aquele diálogo com o filho tirou-lhe inteiramente, a vontade de fazer sexo.Sentia-se impotente e com aquele gosto de derrota na boca.
-O que você quer comer-pergunta-lhe melosa e chorosa a patroa.
-Queria era tomar chumbinho, para morrer e secar como fazem os ratos. Não agüento mais ser pobre.Coitadinho do menino.Pedir para ir a Disneylândia!
-Pronto, esquece! É coisa de criança.Ele vê toda hora na televisão. É isso.Esquece.
A patroa do pedreiro era uma baiana. Mulher nova, coxas perfeitas, ancas largas que suportariam abrigar naquele generoso ventre, quadrigêmeos sem maiores esforços!
Rosto emoldurado por sobrancelhas virgens que nunca tinham levado pinça, por isso eram grossas e sensuais, lábios carnudos e umas nádegas monumentais. Verdadeira preferência nacional. Era muito conhecida na rua e sempre lembrada pelos meninos que nela se inspiravam nesta fase de exercício diário de sexo solitário.A idade das espinhas. Já os machões e ricardões da área, a viam como uma medalha de ouro olímpico a ser conquistada, um dia.Verdadeiro manjar dos deuses.
O vatapá que todo mundo gostaria cair de boca.O acarajé mais delicioso da Bahia.
Muito séria, a patroa do pedreiro sequer olhava para os lados. No dia seguinte a patroa, ainda com aquele pedido do filho engasgado na garganta, e descendo o barranco em que morava ao passar pelo bicheiro que fazia ponto na descida da ladeira, não se conteve e desabafou:
-Veja, “seu” Mãozinha, meu filho, coitadinho, ontem pediu para ir a Disneylândia.Fiquei com muita peninha dele...
-Se eu tivesse dinheiro eu pagava – interrompeu o bicheiro e olhando descaradamente, para os seios fartos, generosos e empinados da baiana. Ainda de quebra tirou um vôo rasante pelo resto do corpo dela.Uma saúde privilegiada!
-Eu tenho certeza disto, “seu” Mãozinha.O senhor é uma pessoa muito boa e querida no bairro.
Motivado por tão sinceros elogios, Mãozinha disse pra ela que iria falar com o Dedão, o banqueiro da área.Quem sabe, ele não se sensibilizaria pela vontade do garoto.Então um brilho imenso acendeu naqueles olhos cor de jabuticaba, da baiana:
-Fala com ele. Fala?- nervosamente, insistia segurando no braço do bicheiro.
-Falo. Amanhã te dou a resposta - tranqüilizou-a.
No dia seguinte quando o incansável marido chegou em casa o filho já estava dormindo.O garoto andava amargurado e muito triste.
Ele jantou uma sopa de entulho e se empanturrou de pão. Finalmente, mais tarde, deu aquela martelada na patroa, que ontem só tinha ficado na intenção.
A baiana ficou na dela.Não falou nada sobre a conversa com o bicheiro. De manhã bem cedo e nervosa, foi até ao caixote sobre o qual a Mãozinha escrevia o jogo do bicho.Ao vê-la, foi logo gritando:
-Vem cá. O Dedão quer ver você!
-Jura?
-E eu sou homem de jurar?Quer ver.Passa lá à tarde.É conversa rápida.Ele é muito ocupado
À tarde, a baiana foi estar com o Dedão.Tudo resolvido. Agora era só tinha que esperar o pedreiro chegar.Na hora de costume, ele chegou. Ela correndo para os seus braços disse;:
-Consegui a viagem para o nosso filho.E advinha para quem mais?
-Ficou maluca, mulher? Quem?
-Você meu querido!Falei com o Dedão, ele disse que sempre quis fazer alguma coisa por você. Ele acha você um homem muito trabalhador, honesto e decente, e ainda disse brincando que aquela laje que você colocou na casa dele ainda não caiu.E começou a rir.Disse que faz questão que você viaje com o nosso filho.
-E você?
-Deixa pra lá.Eu não poderia abusar tanto do senhor Dedão assim.Vai você e nosso filho.Eu fico.Nem pensa em deixar escapar esta oportunidade.
No que o pedreiro ia retrucar alguma coisa, o filho saiu pulando do quarto e começou a beijar os pais.Afinal, iria conhecer a Disneylândia.Uma semana de encantamento e fantasia. O pai ficou paralisado de tanta emoção e dois dias depois embarcaram para a tão sonhada e deslumbrante viagem.
Naquela mesma noite, bateram à porta da baiana:
-Quem é?-silêncio absoluto lá fora
Ao abrir a porta, que surpresa, o Dedão lá estava para saber das últimas.
-Entre “seu” Dedão.Fique a vontade.
Dedão não titubeou! Cumprindo fielmente, a ordem da baiana entrou e foi logo tirando a roupa.