Tavinho era um menino muito esperto, daqueles que ficava difícil enganar ou esconder alguma coisa.
Tinha resposta prá tudo.
Certo dia, conversando com sua tia e madrinha, resolveu queixar-se de sua mãe, achava que ela estava inventando coisas.
- Dinda, minha mãe tá sem noção!
- Tá, querido?
- Ela é uma tonta!
- Tavinho, você sabe que sua mãe é minha irmã, também, não sabe?
- Claro que sei, né? Mas a sua irmã que também é minha mãe, falou uma coisa de "ingnorante".
- Ignorante, amor.
- É. Isso aí. Ela falou uma coisa que nunca existiu, dinda. Eu sei que não existe.
- E que coisa é essa?
- Ela falou que existe uma tal de mula sem cabeça. Que é coisa do "focore" brasileiro.
- Folclore, é folclore, querido.
- Tá, mas isso não existe, nunca existiu, eu sei. Ela tá sem noção
- Ela contou sobre a lenda da mula sem cabeça?
- Contou que essa mula sem cabeça bota fogo pelo pescoço, bem no lugar onde tinha que ter a cabeça. Quase morri de tanto rir. Sem noção!
- E você não acreditou?
- Dinda, que isso? Tá sem noção, também? Agora é que eu morro de rir!
- Que mais ela disse?
- Que a mula, se o filho não obedecer a mãe, faz ele virar monstro.
- Pera aí, vamos organizar, ela disse que o filho, quando desobedece aos pais, a mula o transforma em um monstro?
- Foi isso que eu falei! Não entendeu? Se liga, dinda!
- Tá, vou ficar ligada. Que mais sua mãe disse?
- Dinda! Não existe mula sem cabeça!
- Não?
- Não, mesmo! Quem não tem cabeça, dinda, é a galinha.
- Como é que é? Galinha tem, sim, cabeça, com olhinhos, biquinho e tem penas.
- Até você, Dinda, tá querendo me enganar? Galinha é branquinha, sem pena nenhuma e sem cabeça, sim senhora! Eu vi, eu vejo!
- Tavinho, onde você viu galinha sem cabeça?
- No mercado, ué! E onde é que tem galinha? No mercado!
- Querido, você tá fazendo uma confusão danada.
- Tô nada, não sou bobo, não.
- Amor, essa galinha que sua mãe compra no supermercado é congelada. Mas ela tem cabeça, vem em um saquinho à parte.
- A cabeça dela vem fora do pescoço?
- Vem.
- Então ela não tem cabeça!
- Querido, deixa eu te explicar.
- Não precisa, já entendi, a mula sem cabeça, pode. E eu nunca vi. A galinha que eu vejo sempre, não tem. E pronto!
- Mas, Tavinho...
- Dinda, você é chata e tonta igual a minha mãe que é sua irmã.
- Escuta, meu amor...
- Não sou "indiota", não
- É idiota.
Deu por terminada a conversa e saiu, com o narizinho empinado. Eram duas tontas, as irmãs.
Preferiu brincar com seu cachorrinho, com cabeça, mas sem invencionices.