PANELAS DE TEFLON




Os valores maiores das nossas vida não estão fora de nós, e sim dentro de cada um.
Nossos sentimentos, o julgamento de beleza, as sensações de felicidade, tristeza amor ou frustrações, nascem de dentro para fora.

São comuns as expressões de que fulano ou cicrano tem tudo e são infelizes, vivem de mal com a vida enfim...

Isto porque o que vemos no mundo exterior tem que ser interpretado pelo conjunto do nosso funcionamento psíquico, sendo o humor, em tese, o principal indicador de como estamos.

Já aconteceu com você certamente, assistir a uma peça teatral, uma comédia na qual a platéia ri durante todo o tempo e um cara ao seu lado, não esboça sequer um ar de alegria. Parece que estão todos drogados, embriagados e ele o único sóbrio, em meio a um público delirante de alegria.

É porque ele está vendo, percebendo e entendendo outra peça, não aquela que todo mundo está gostando.

Nos relacionamentos humanos isto é constante, a julgar pelo diálogo daquele casal em crise.

-Martha Helena, melhor seria nos separarmos – diz o marido com ar entediado.
- A culpa é sua Pedro Paulo, você nunca deixou eu trabalhar fora, fazer uma faculdade, quando eu fazia regime e ficava gostosa você me engravidava logo, com medo que outro o fizesse.
-Você está sonhando.
-Não isto é um pesadelo. Quando nos fizemos o nosso quinto filho você disse que antes que eu ficasse novamente uma baranga, ia aproveitar a oportunidade, porque outro aventureiro poderia cobiçar este tesouro. Eu chorei muito Pedro Paulo. Muito!

-Martha Helena aquilo foi uma brincadeira...

-Brincadeira? Pois sim, mas não esqueço. Você sabe que eu sofro deste maldito efeito sanfona e sempre que a sanfona fica fechada, meu corpo fica gostosinho e lá vem você com esta perfuradora de procriação para me embuchar.

-Martha Helena é que seu corpo tem dois estados bem distintos, e sempre que você quer: ou fica imensa ou gostosa e sarada.

-E você só gosta de carne de primeira, não é seu ingrato? Só de céu azul, mar calmo, sem tempestade. Olha Pedro Paulo eu tenho uma tristeza dentro de mim muito grande. Sou o tipo da mulher que quando não estou com tristeza estou grávida!

-Martha Helena eu sinto esta amargura.

Apesar de lhe dar tudo, seus olhos denunciam que você não gosta mais de mim. É uma ingratidão, pois você tem tudo: um televisor de plasma de oitenta polegadas, todos os aparelhos eletrodomésticos de primeira linha, nosso colchão foi feito sob medida, suas panelas são todas de teflon...

-Enfia as panelas de teflon na sua bunda Pedro Paulo, eu preciso é de um homem que me ame e valorize seja da forma que eu estiver, gorda e imensa, magra e gostosa, você não vê meu interior. Eu sou uma mulher frustrada, cheia de filhos e...

-Está bem, Martha Helena, eu sabia que você me detestava. Mas quando eu morrer, você vai me dar valor e vai me visitar arrependida.

-Eu lhe visitar? Pedro Paulo, você sabe que eu não entro em cemitério.

-Eu sei disto, mas você vai me visitar.

-Pois sim...Cemitério? Nunca!

- Vai visitar sim, mesmo contra a sua vontade.Pois quando eu morrer Martha Helena meu corpo vai ser cremado e as cinzas jogadas no chão daquele shopping center que você passa o dia todo gastando meu dinheiro.