DEPRÊ.





A depressão não é o pior dos males humanos. É o último.

O que poderá vir depois? Urinar pelo nariz, ou tossir pelo ouvido?

O deprimido é antes de tudo um fiel ouvinte e leitor de todas as sessões de previsão meteorológica. Tempo bom significa:

-Merda... Vai dar praia!

Sol e calor levam o deprimido a pensar que ele não vai conseguir resistir àquilo.

Se for fim de semana, daqueles feriadões de quatro dias então, está armado a maior desgraça que um ser humano pode encarar.

Fica pensando e engendrando fórmulas mágicas para sair daquela terrível situação. Percorre na internet os estados nos quais estão previstas geadas, chuvas torrenciais, cataclismos meteorológicos.






Quando identifica, liga imediatamente, para a agência de viagem:

‑ Poltrona 10 Turismo, bom dia! Em que podemos servir? – Atende uma suave voz suave, feminina, programada para ser gentil e até escutar alguns impropérios se for preciso!

‑ Olha, você, tem passagem para Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul?‑ pergunta nosso deprê, louco para se livrar deste inferno de mar e sol, maracanã e futebol.

Do outro lado um silêncio maior do que usual.

-Dom Pedrito, Sr?

-É Dom Pedrito...

-O Sr. tem acompanhado o noticiário, e as previsões do tempo para aquela região? - pergunta timidamente a atendente.

-Sim, tenho...

-Sabe o que é? -interrompe a atendente - todos os nossos clientes cancelaram as viagens porque lá em Dom Pedrito, no momento, onde não tem neve pela barriga, tem água até a cabeça.

Só estamos conseguindo pousar de hidroavião da FAB e, mesmo assim para mandar mantimentos para os flagelados - esclarece com uma voz, absolutamente, constrangida a senhorita da agência Poltrona 10 Turismo.

- Sim, eu sei, estou acompanhando tudo. No entanto, aqui no Rio tem previsão de feriadão de quatro dias, com muito sol, mínima de 39 e máxima de 42 graus, muita praia, aquelas mulheres todas bronzeadíssimas e seminuas na areia. Algumas até com os peitos, generosamente, de fora.

Além disso, aquele monte de homens morenos e sarados, correndo pra lá e pra cá, verdadeiros atletas bronzeados. Os cachorros mergulhando sem a menor cerimônia na. água, todas as redes de vôlei ocupadas, o frescobol comendo à solta. Pelo amor de Deus, me arruma uma passagem para Dom Pedrito! ‑ implora, nosso desesperado melancólico e irritadiço deprê.

Realmente, para quem gosta da escuridão, a luz ofusca a visão.

O deprimido gosta do escuro, do cinza, do silêncio, de pizza no sofá, de semanas seguidas sem mudar nada na sua rotina.

Se pudesse só acordaria na hora de dormir.

Lê todos os jornais e não lê nenhum. Ouve todas as noticias possíveis e não escutou nada! Vê todos os canais de uma vez, transformando, o controle remoto do seu televisor num verdadeiro gatilho de metralhadora talibã.

Se você quiser agradar um destes deprê, jamais se lembre da data do seu aniversário. Deprimido não aniversaria. Morreu mais doze meses.


Esportes radicais do deprimido é buraco, dama e xadrez os quais joga contra ele mesmo. Adora palavras cruzadas, revistinhas de passatempos com aquele monte de caça palavras, descubra a palavra, complete aqui e ali, mas sua diversão preferida é jogar forca.

Enfim, um porre!


Eventualmente, toma banho e pelando, urina várias vezes durante aquele calorão debaixo do chuveiro e reclama sozinho daquele cheiro forte do sabonete.

Então, espirra. Espirra muito.

Quando está vendo televisão chora em qualquer tipo de programa, até em anúncios de venda de imóveis, vive abraçado com os cachorros e quando toca o telefone, atende nervoso:

‑ Porra, já disse a todos vocês que eu não estou em casa!

E do outro lado:

-Então, quem é que está falando?
-É o rádio, o rádio, entendeu?– Em seguida apaga o celular, definitivamente!

BETI CALÁBRIA NUNCA TEVE TEMPO PARA ESTUDAR.

Beti Calábria era, digamos assim, pouco letrada, pois sempre foi muito assediado pelos homens e vivia matando aula para atender as paixões incontidas da garotada.

Até chegou a entrar para faculdade, mas os touros no cio nunca davam chance dela cumprir suas obrigações escolares. E, realmente ela gostava de servir, tinha uma alma doce e caridosa, além, de um rosto perfeito, desenhado a mão pela natureza e coxas irresistíveis.

Finalmente, casou-se com um dos rapazes que mais a levava para os motéis das redondezas da faculdade.

Atualmente, aos 26 anos continuava uma linda mulher. Beti Calábria, filha de italianos, cabelos pretos longos, nariz empinado e corpo escultural, era casada com Juliano Mauro, carioca da gema e mais escorregadio que peixe pequeno, em pescaria de amadores, de fim de semana.


Viviam as turras, mas amavam-se intensamente, pois Beti Calábria tinha as mãos milagrosas para fazer e oferecer ao marido comida de primeira categoria.

Mulher perfeita de cama e cozinha!

Portanto, ele comia bem, em todos os sentidos. Isto não só prende um homem, como também, o torna um pançudo em curto prazo. Mas, é muito recompensador. E como!

E aquele casamento gratificava a esposa pela freqüência e absoluta competência sexual do parceiro, que na cama, na grama, no chão do quintal e onde mais coubessem os dois, estava sempre dizendo: Presente!

Até que:

-Beti Calábria, minha gostosa ‘carcamana “, italianinha tesuda, deixa-me esfregar a cara nestes seios que me enlouquecem, com estas marquinhas do sutiã do seu biquíni – pedia o maridão carente com cara de bebê Johnson.

-Esfrega, macho querido, me leva à loucura e depois, vai abaixando, abaixando...

- Tá bom, mas pára de irradiar ,parece locutora, senão daqui a pouco eu abaixo tanto que vou parar debaixo da cama. Eu sei onde você quer que eu vá, minha adorável, mas antes me dá um ósculo?

Beti Calábria levanta-se, ameaçando vestir as calcinhas e diz:

-Juliano Mauro, estou cheio desta sua tara. Hoje ,ainda é terça-feira ,e esta semana, já dei meu ósculo duas vezes, e você não pára mais de pedir - revoltada tenta sair do quarto, nua e com a calcinha agora, amassada na mão direita.

-Beti Calábria, larga esta calcinha, me dá isso aqui - tentando abrir a mão da mulher!

-Não dou e vou sair desta cama seu tarado. Você só quer agora meu ósculo, tá pensando que eu sinto alguma coisa, quando você “osculhamba-me” toda? E quer saber, não sinto nada, faço só pra te agradar.Bem... até sinto uma coisinha, mas este seu troço é muito grande...

- Você não gosta, Beti Calábria? Preferia que eu fosse um eunuco?

-Que diabo é isso, Juliano, Mauro? Eu não entendo este palavriado difícil que você usa.

-Beti Calábria. eunuco é o cara que não tem o bingolim, é capado...

-Eunuco é esta porcaria? Bem, não posso ser mentirosa com você.Gostar do seu bingolim eu gosto, mas no ósculo dói.

- Betina Calábria, amor da minha vida, então você deve estar com herpes labial, afta na boca, ósculo não dói. É você quem fica horas me pedindo beijo na boca e em tudo que é lugar, o tempo todo.

-Beijo é uma coisa, diferente, Juliano Mauro.

- Então Beti Calábria, estou pedindo um ósculo, um beijo e vai ser nesta boca carnuda gostosa - dizia isto mordendo seus próprios lábios e chupando o ar para dentro como se estivesse querendo aliviar uma dor de dente.

-Espera aí Juliano Mauro, não fica agora querendo disfarçar só para consertar as besteiras que você diz, não...

-Que disfarçar, Beti Calábria? Ficou maluca?

-É isso mesmo você queria botar novamente no meu ósculo e agora vem com esta cara de sonso dizendo que é beijo, aqui ó! - encerra, fazendo aquele sinal característico com o dedão maior daquela linda mãozinha.

Não conseguindo aguentar cena tão tragicômica, Juliano Mauro joga-se na cama e começa a rir de forma incontida e falava, entre uma tomada de respiração e outro riso:

-Beti Calaria, ósculo é beijo, meu amor. Beijo gostoso nesta sua boca, no seu rostinho...

-Ah, Juliano Mauro, mais “culo” em italiano é aquilo mesmo, que, aliás, você pede, dizendo sempre que é pra variar, incrementar e apimentar nossa relação.

-Bobinha, mais quando eu quero não peço, “culo”, nem "os culo" e, sim sua bundinha!

-Ai, Juliano Mauro, não fala assim, pára, pois eu começo a sentir que estou desmoronado...
-Então, desaba aqui em cima da cama, e esquece que você confunde as palavras.

NA BANHEIRA DA MINHA VIZINHA.




Tinha cinco anos de idade, ela uns vinte a mais. Eu brincava com sua filha, ela gostava. Uma neném de poucos meses.Linda neném. Linda a mãe daquela neném.Eu ficava o dia todo, depois de vir da escola, na casa dela. Éramos vizinhos. Nossas casas tinham quintais e muros baixos.

Minha grande paixão, eu adorava aquela vizinha e tinha horror só em pensar que ela pudesse desconfiar. Hoje tenho absoluta certeza de que ela sabia. E pensava!

Muitas vezes, para não ir sujo para minha casa ela mandava eu tomar banho.Enquanto isso pedia lá em casa uma roupa limpa e voltava.

Nunca me viu nu. Aliás, nunca a deixei que ela me visse nu. Seu banheiro lembro bem, era daqueles antigos com os encanamentos aparentes nas paredes e pintados de branco, a pia com torneira de cobre brilhando e uma banheira grande, de ferro esmaltado igualmente, branco e o chuveiro ficava em cima dela.

Minha vizinha era linda, tinha um rosto no qual, sua boca, eu fixei na memória até hoje: Carnuda. Pele rosada, cabelos longos, seios empinados e geralmente sem sutiã.

Umas ancas lindas e proporcionais ao corpo, e coxas maravilhosas que as via sempre marcadas no vestido, Por trás, me lembro tinha umas nádegas que empinavam também o vestido. Era muito linda e os olhos azuis.

Quando eu tomava banho na casa dela, primeiro a neném tinha prioridade, mamava e o colocava para dormir.

Depois enchia a banheira e mandava eu lavar bem as orelhas e os cabelos. Então saía do banheiro.

Um dia, ela quebrou esta rotina e entrou de repente no banheiro perguntando:

-Você sabe lavar o peruzinho?

Quando ela perguntou isso eu senti meu peru entrar completamente.Só via meu saquinho.

-Ela debruçou-se na borda da banheira e disse;

-Vou ensinar.

Em seguida, enfiou a mão dentro d’água e segurou o que ainda restava do meu peru.

E brincando falou:

-Ué, o bicho comeu? Cadê ele? Fica de pé.

Então, envergonhado e com a espuma escorrendo no meu corpo ela segurou meu peru e disse;

-Olha bem, pega essa pele de cima, puxa para trás. Tá vendo esta cabecinha passa sabão assim e molha. Ih, tá ficando durinho, assim é melhor pra lavar.

Não sei como ele ficou durinho, mas, ficou. Então ela trouxe a pele de cima para frente e pra trás umas três vezes, passou sabonete na cabecinha e lavou direitinho.

- Puxa, ficou durinho, mesmo - repetiu.

E em seguida veio o tiro de misericórdia, quando falou:

-Tá com vontade de fazer xixi, não é. Então vai fazer xixi.

E eu ali de pé, olhando os seios dela molhados e grudados no vestido, aquela boca carnuda e aqueles olhos azuis, a menos de um palmo do meu peruzinho.Aprendi que não queria fazer xixi, coisa nenhuma.

Até hoje, sei qual a diferença!


SOBRE A INFIDELIDADE DO SER HUMANO, DO CISNE, E DO LOUVA-DEUS.


Nós, seres humanos - a espécie mais evoluída dentre todas as outras - somos os mais recentes animais sobre a face da terra.

Para não complicarmos muito esta afirmação, basta dizer que, se compararmos a existência do homem e a dos outros animais, com as vinte e quatro horas do dia, teríamos chegado por aqui, no último segundo.

Por exemplo, as baratas, são milhões de anos mais antigas do que nós, por estas bandas.

E além de doença, assustar alguns homens e mulheres, para que serve este troço?

O grande diferencial humano é a nossa capacidade de fazer cultura, ou seja, transformar o ambiente natural pré-existente, para nossa melhor adaptação e sobrevivência, além de dominarmos técnicas, criamos tecnologias e elaborarmos conhecimentos científicos. Desta forma, disparamos na cadeia evolutiva.

Por esta habilidade única, conseguimos neste curto espaço de tempo, nos lançarmos até em viagens espaciais.

Mas, nem tudo são flores.

Também, somos um dos animais mais infiéis, nos relacionamentos amorosos.

O cisne macho fica a vida inteira ao lado da companheira e quando ela morre, ele vai atrás, não de outra fêmea, como fazem os homens e sim, morrem também.

Não precisava tanto.

Já alguns seres humanos, ainda segurando a alça do caixão na qual sua ex-companheira dorme o sono eterno, ele já está olhando para a bunda da mulher da frente, para os seios daquela que não pára de chorar a sua direita, e ainda – apesar de reagir muito a estes instintos inadequados a situação – não consegue tirar os olhos do corpo de uma gostosa com um longo vestido preto a lhe encobrir, coxas perfeitas, roliças e deliciosas, segundo suas fantasias.

Começa a rezar para então, espantar os fluidos negativos.

No reino animal, a fêmea dos Louva-Deus, é a mais devassa e infiel.

As fêmeas comem, devoram, degustam seus machos depois da cópula – nome clássico, conservador e em desuso da famosa, "trepadinha" – por uma razão absolutamente lógica, afinal, para que serve aquele macho que cumpriu suas obrigações de perpetuação da espécie?

Então ficamos combinados assim: Tenhamos um comportamento intermediário entre estes extremos que encontramos referentes aos homens, os cisnes e o Louva-Deus.

Ninguém deve querer viver juntos até a morte, se ela já se faz presente no dia-a-dia daquele amor que deu origem à união, onde tudo era tão lindo, a freqüência sexual intensa e ela lhe chamava de “benhê”.

No entanto, também as senhoras fêmeas não precisam matar seus companheiros depois da cópula e aqui não é nem por uma razão sentimental, mas simplesmente objetiva e constatável pelas próprias mulheres, pois segundo elas, está faltando homem no mercado.

Os poucos que sobram devem ser conservados, mas não em formol,e sim, de maneira mais prazerosa e principalmente ,com a televisão desligada !










COMO ELE CONHECEU MARILEINE.



Estava na praia sob um sol descascante.Sensação térmica de quarenta e cinco graus debaixo da barraca e em meio aquela sensação de que o deserto do Saara era ali, o cara vislumbrou um oásis de mulher, loira natural e naturalmente, irresistível ,com um maiô fio dental preto!

Acenou com a cabeça, esboçou um sorriso para aquela mulher lindíssima que estava deitada de bruços, olhando na sua direção. Então, ela levantou-se, ta
mbém, mas em direção ao mar, como se estivesse querendo dizer: -Olha o que, nesta vida, um homem pode desejar de melhor, numa mulher!

Ela não deveria ter feito aquilo.Ele já estava satisfeito só com as suas costas lisinhas, bronzeadas, sem um sinalzinho sequer e aqueles dois morrinhos no final, de onde saíam duas coxas roliças, e com penugens tipo pêssego. Absolutamente, gostosas. Ponto.

Loira com penugens tipo pêssego, derruba e causa arritmia no mais normais dos corações masculinos.

Levantou-se também, e seguiu-a por trás, num ângulo privilegiado e ainda tomando fôlego para me acostumar com o que esperava ver pela frente.
Disse:
-Calor infernal, né?
Ela olhou para trás e falou-
-Oi, verdade. Ah toma conta das minhas coisas lá na areia?
Deu meia volta, tal qual um solícito serviçal destas grandes mansões e ocupou o território dela.
Mulher tem que saber mandar. E como ela sabia. E podia.
Ela deu uma mergulhada e aí sim de frente para aquela maravilhosa realidade, ele descobriu o novo Colosso de Rhodes com uma boca carnuda, nariz empinadinho, olhos levemente puxados cor de mel, dois seios um do lado do outro, robustos, mas comportados, sem ter passado por cortes, nem próteses de silicone, um ventre de santa, e aquele andar, tipo mexe-mexe, enfim um corpo moldado no dia mais inspirado do Homem lá de cima.

-Apanha esta toalha –Pediu com um leve sorriso de quem sabe o sorriso tem.
Passou levemente no rosto, estendeu-lhe a mão e se apresentou.
-Prazer, Marileine.
Antes mesmo que ele pudesse dizer o meu nome, ela atropelou.
-Vou tomar um mate.
Aí, o extasiado serviçal deu um berro e o cara do mate veio e perguntou-lhe.
-O Sr...Também toma?
Imediatamente reagiu;
-Não, e ela quem vai tomar, e disse isso olhando escancaradamente para aquele par de coxas que estavam a sua frente, pois sentado na toalha ele tinha a impressão que o mundo era realmente, só aquele par de coxas, pois sumiu o mar, as pessoas em volta, eram só coxas!
-Ah, também quero biscoito - completou o pedido.
Ordenou ao cara que servisse.
O vendedor perguntou-lhe.
- E o senhor, vai comer?
Instintivamente saiu a frase que denunciava sua intenção
- Pretendo comer.
Quando o vendedor oferece-lhe o saco de biscoito, ele acordou e corrigiu.
-Não, mais tarde. Mais tarde, eu como também, o biscoito.
O “também” abriu um sorriso em Marilene que nem garota propaganda escolhida realmente, a dedo e a dente, consegue tal performance: Perfeito!


-Trabalha em que Marileine? – pergunto-lhe.
-Sou freelancer... Faço traduções.
-De qualquer língua? - Apimentou com uma inevitável vontade mórbida de agarrá-la ali mesmo.
-Grego e inglês.
Antes que ele fizesse qualquer comentário Marilaine chamou o vendedor de sorvete e pediu um picolé. Chocolate crocante. Quando segurou no pauzinho ele viu as mãos mais delicadas e singelas, com as unhas pintadas de vermelhão.

Ela levou a ponta do sorvete à boca e deu uma chupada na pontinha. Ele deu uma mexida na areia, parecendo ter sentido o reflexo prazeroso em si, daquele inocente ato.
Pagou, ou melhor, continuou pagando.
-Você mora por aqui, Marilaine?
-Com meus pais
-Estuda?
-Estudei até os vinte e três.
-Então, parou há pouco tempo...
-Quatro anos.

Pronto aquele mulheraço, tipo sessão de gala do Cirque de Soleil tinha vinte e sete anos.
-Se formou em quê?
-Nutricionista.
Oh céus, era tudo que ele precisava: falar sobre comer, qual a melhor comida, como comer melhor, onde, o quê, devagar, médio ou de presssinha, se chupar laranja tinha mais vitamina c que tangerina, se ela gostava de mandioca, cenoura, nabo...
Enquanto pensava estas mirabolantes e antropofágicas fantasias sensuais, passa novamente o cara do Mate. Pagou, outro. E mais um sorvete e, enfim...Continuou pagando.
Mas, naquela época, estas pequenas despesas foram o melhor investimento dele.
Saudades de Marilaine casou-se com um milionário armador grego.
A competição foi muito desigual, pois ele só tinha um caminhão que, até dava para levar toda aquela areia de sedução, mas reconhecia que nos navios do grego Marileine deve ter sentido mais segurança e espaço para servir-se e ele só esperava, que ela estivesse sendo bem atendia e em mesas fartas de muitos talheres.

Pois, enquanto, Marileine esteve com ele, os talheres eram muitos e sempre de prata, pensava nisso ,com evidente ar melancólico.
Como ela merecia.
Realmente,o amor é lindo mais nem sempre, vive só de talheres de prata.










PANELAS DE TEFLON




Os valores maiores das nossas vida não estão fora de nós, e sim dentro de cada um.
Nossos sentimentos, o julgamento de beleza, as sensações de felicidade, tristeza amor ou frustrações, nascem de dentro para fora.

São comuns as expressões de que fulano ou cicrano tem tudo e são infelizes, vivem de mal com a vida enfim...

Isto porque o que vemos no mundo exterior tem que ser interpretado pelo conjunto do nosso funcionamento psíquico, sendo o humor, em tese, o principal indicador de como estamos.

Já aconteceu com você certamente, assistir a uma peça teatral, uma comédia na qual a platéia ri durante todo o tempo e um cara ao seu lado, não esboça sequer um ar de alegria. Parece que estão todos drogados, embriagados e ele o único sóbrio, em meio a um público delirante de alegria.

É porque ele está vendo, percebendo e entendendo outra peça, não aquela que todo mundo está gostando.

Nos relacionamentos humanos isto é constante, a julgar pelo diálogo daquele casal em crise.

-Martha Helena, melhor seria nos separarmos – diz o marido com ar entediado.
- A culpa é sua Pedro Paulo, você nunca deixou eu trabalhar fora, fazer uma faculdade, quando eu fazia regime e ficava gostosa você me engravidava logo, com medo que outro o fizesse.
-Você está sonhando.
-Não isto é um pesadelo. Quando nos fizemos o nosso quinto filho você disse que antes que eu ficasse novamente uma baranga, ia aproveitar a oportunidade, porque outro aventureiro poderia cobiçar este tesouro. Eu chorei muito Pedro Paulo. Muito!

-Martha Helena aquilo foi uma brincadeira...

-Brincadeira? Pois sim, mas não esqueço. Você sabe que eu sofro deste maldito efeito sanfona e sempre que a sanfona fica fechada, meu corpo fica gostosinho e lá vem você com esta perfuradora de procriação para me embuchar.

-Martha Helena é que seu corpo tem dois estados bem distintos, e sempre que você quer: ou fica imensa ou gostosa e sarada.

-E você só gosta de carne de primeira, não é seu ingrato? Só de céu azul, mar calmo, sem tempestade. Olha Pedro Paulo eu tenho uma tristeza dentro de mim muito grande. Sou o tipo da mulher que quando não estou com tristeza estou grávida!

-Martha Helena eu sinto esta amargura.

Apesar de lhe dar tudo, seus olhos denunciam que você não gosta mais de mim. É uma ingratidão, pois você tem tudo: um televisor de plasma de oitenta polegadas, todos os aparelhos eletrodomésticos de primeira linha, nosso colchão foi feito sob medida, suas panelas são todas de teflon...

-Enfia as panelas de teflon na sua bunda Pedro Paulo, eu preciso é de um homem que me ame e valorize seja da forma que eu estiver, gorda e imensa, magra e gostosa, você não vê meu interior. Eu sou uma mulher frustrada, cheia de filhos e...

-Está bem, Martha Helena, eu sabia que você me detestava. Mas quando eu morrer, você vai me dar valor e vai me visitar arrependida.

-Eu lhe visitar? Pedro Paulo, você sabe que eu não entro em cemitério.

-Eu sei disto, mas você vai me visitar.

-Pois sim...Cemitério? Nunca!

- Vai visitar sim, mesmo contra a sua vontade.Pois quando eu morrer Martha Helena meu corpo vai ser cremado e as cinzas jogadas no chão daquele shopping center que você passa o dia todo gastando meu dinheiro.

AQUELE FILHO TEMPORÃO, SÓ QUERIA DAR "UMAZINHA".


A queixa mais comum dos pais é a de que, apesar de irmãos, eles são muito diferentes.Os pais costumam confundir, no entanto, filhos com pães da mesma fornada.

Com gente é diferente.






Nesta família de quatro filhos, lógico que os comportamentos eram diferenciados .O primogênito, por exemplo, é calmo, não tem vícios, toma banho todos os dias, aplicado, organizado estudioso, carinhoso, gosta de esporte, enfim, quase uma utopia.

Já, o segundo filho, com uma diferença de dois anos, é irritável, mas ninguém nota porque dorme o dia todo e quando acorda, fica pendurado no videogame até dormir de novo. O grande problema é quando tira o tênis, pois, até o cachorro espirra, e ele não sente o seu próprio cheiro,porque fuma dois maços de cigarros por dia, vivendo envolto naquela névoa de fumaça mortal.


O terceiro da ninhada -com outros três anos de diferença para o segundo rebento - é uma dama. Beija as mãos das meninas, gosta de poesia, lê muito, escreve sonetos lindíssimos, é crente, coleciona tudo, veste-se de forma discretíssima, seus cabelos são cortados bem rente ao couro cabeludo, chama todo mundo de senhor, enfim um exemplo de rapaz.

O quarto filho desta numerosa família é um temporão, nasceu de um forno já com pouca lenha, fogo quase apagando e dois anos depois, do terceiro. É o desastre da família!

Seu estado natural é ser catastrófico. Rouba o carro do pai e dos irmãos, puxa um fuminho, na escola é suspenso de três em três meses e suas namoradas, sem exceção, todas têm cara de vodus, branquicelas, desleixadas, batom roxo, unha roxa,cabelos avermelhados, olhos enegrecidos de lápis preto, parecendo céu em dia de tempestade, negro e atemorizante, não falam uma frase sem colocar porra, como virgula e tatuadas até na sola dos pés.

Quando “está ficando” com uma garota, este rebento - o quarto daquela fornada - com comportamentos subjetivos e objetivos de um maníaco sexual, pensa que a sua casa é motel e insiste:

-Pô cara ( cara é o pai dele), deixa eu “descolar umazinha”esta noite, aqui em casa com a Cristina Helena. Eu vou casar com ela, prometo! - pede, sempre coçando ostensivamente as suas partes baixas.

-Nada disso, esta é a décima que você disse que ia casar. Leva esta Cristina Helena pra casa do cassete...Retruca o pai

- Pô, mermão (mermão é o pai dele) deixa de ser careta ( ele está se referindo ao pai dele como careta) o que custa você fingir que não está vendo...

- Mas, a questão é que eu estou vendo e, ainda por cima, vou escutar cama rangendo, aqueles ai, ai, ui, ui, a noite inteira e até os cachorros ficam assustados, isto não tem sentido...

-Tá dando uma de mané ( mané é o pai dele), quem fica nesta posição de sentido é soldado, a gente fica caladinho, se mexe pouco, eu não deixo “ zoar”, se ela começar a gemer eu enfio o travesseiro naquele bocão.

-Estamos, conversados, leva esta... Como é mesmo o nome dela?

-Cristina Helena, é muito gostosa né papa ( papa não é o do vaticano, é o pai dele).

-É, muito gostosa, lá fora. Aqui dentro não tem gostosa, nem o escambau! Isto aqui é uma casa de família...

-Ih cara, em casa de família não se faz sexo?

-Não desta forma promíscua e desrespeitosa.

- Aí gente boa, ( gente boa é o pai dele), eu to "durango",não dá pra descolar nem motel de última categoria, “quebra essa, vai”?

-Quebro é a tua cara, seu sem vergonha, e acabou a conversa..

A mãe que assistia a tudo, impassível, com aquele olhar de Monalisa complacente, agora é o alvo das lamúrias e pedidos daquele quarto filho , verdadeiro touro no cio e taradão inconveniente.

- Foi pra isso que você me botou no mundo, mãezinha? Foi? Para ver seu filho sofrer, ser rejeitado, humilhado, tratado como um João Ninguém?
E a mãe com aquele ar, também ,de Pôncio Pilatos, mas, sem querer lavar as mãos, olha com ternura aquele imbeciloide, mal educado temporão, exalando testorterona e seus feromônios sexuais masculinos, até pelos ouvidos, e tenta controlar a situação:

- Filhinho, arranja outro jeito.

-Que jeito mãezinha? Transar com a Cristina Helena na casa do cachorro? A gente se ama...

-Filho, também não exagera !!!

-Tá mãezinha, mas ...

- Vai pra casa dela.

- Não dá porque o pai dela já expulsou a gente. Disse que a minha cota já tinha expirado, e meu prazo de validade estava vencido.Pô mãezinha, mãe é mãe, deixa?

- Meu filhinho, mãe é mãe.

-Então, mãezinha?

- Mas dona de bordel é outra coisa, filhinho!