A década de 60 liberou geral aquela galera que, só fazia sexo depois de cumpridas as formalidades legais, e os seus pais orgulhavam-se de dizer que, suas filhas haviam casado virgens e de papel passado.
Segui-se, então, um período que, dar um pouquinho a mais ou um pouquinho a menos, não seria motivo para denegrir ninguém, desde que ela tomasse o anticoncepcional recomendado pela amiga. Naqueles tempos idos, camisinha de Vênus, era uma simplória expressão, relativa a um tipo de vestimenta mais despojada da deusa grega do amor.
Então, as mulheres, foram descobrindo aos poucos que o aparelho genital masculino não era o inexpugnável cofre do Banco do Brasil e que podia, tranqüilamente, ser explorado desde que houvesse um mínimo de motivação, nenhuma culpa por querer ser feliz e, alguma sorte - sem o que, aliás, não se chupa nem laranja sem engasgar - como já diria o mordaz, Nelson Rodrigues.
Lembremos que a mulher do período sexual paleolítico e, portanto, anterior aos anos da explosão sexual, jamais demonstrava ter vontade ou afinidade com a prazerosa arte de “fazer neném”. Prova disto, eram as repetitivas e insólitas reações e desculpas que elas davam, sempre que incitadas pelo parceiro a ter um prazer maior, do que comer pipoca sentada no sofá, vendo televisão.
Invariavelmente, ouviam-se frases que eram verdadeiras pérolas de inapetência e jejum da sensualidade feminina, como por exemplo: ”se você quiser, eu deixo”, “por mim tanto faz”, “se isto vai te aliviar eu faço”, “pode, mas não ponho a mão”, “pára, pára, não, não... seu desgraçado, ta vendo, eu não queria fazer isto, olha que sujeirada”, ”seu egoísta, é sempre a mesma coisa”, “o quê? Faz isto com a tua mãe”, “ah, que nojeira!”.
Um amigo contou-me uma história, desta época anterior a da liberação sexual feminina, que a única vez que a sua mulher emitiu sons vocais diferenciados da palavra e, aparentando um vestígio de estado orgástico, foi quando, inadvertidamente - ele no calor do amor conjugal - derrubou-a sobre uma caixa de costura aberta, que estava em cima da cama. Disse-me que, foi à única vez que a mulher dele gemeu na cama. Que maldade! Bem, se ela era assim tão econômica nas demonstrações de prazer, podia ser também que a culpa fosse dele, um tremendo desconhecedor do ponto G, e um amador e inexperiente frangote, na execução dos malabarismos, tão solicitadas nas preliminares. Algumas mulheres exigem tanto as preliminares, que acabam se esquecendo do jogo principal. Porém, isto já é coisa do passado, pois, neste terceiro milênio da era de aquário - apesar das pesquisas, ainda apontarem que cerca de 40% das mulheres brasileiras nunca terem chegado ao orgasmo - devemos reconhecer, que a maioria tem ido fundo e, como nunca, na saudável prática de abraçar o mundo com as pernas, como diriam nossos avós. Hoje, o mercado abriu-se, literalmente, e em todos os sentidos, para as dádivas do prazer e já existe até instrutor de artes sensuais, uma variação mais arrojada dos atuais profissionais de ginástica, genericamente, intitulados de personal training.
Sobre isto é que repousa uma das minhas mais recentes fantasias, qual seja o de fazer-me passar por um idiota completo, e marcar uma consulta com umas dessas instrutoras de artes sensuais. Primeiro, como todo homem faz, mentiria deslavadamente, e ela como toda mulher age, fingiria cinicamente, que estava acreditando. Diria que não fazia sexo há cento e quarenta e seis meses, pois minha “senhoura” era estéril, psicótica, cardíaca, epilética, hipertensa, só possuía um rim, metade do fígado, um terço do estômago e nenhum pulmão. Faria, então, as deprimidas caras e bocas de carente, desesperado e abandonado à própria sorte afetiva. Um ícone da infelicidade! E ao deparar-me com a instrutora de artes sensuais, diria convicto:
– Instrutora, estou aqui para ter uma aula de atualização daquelas posições que fazemos na cama, quando nosso objetivo não é dormir. Depois de todo este tempo que lhe falei, sem fazer sexo, eu não sei fazer mais nada na cama, a não ser... dormir. Durmo, por exemplo, de bruços, de ladinho e de costas. Na realidade, eu prefiro de ladinho, pois como tenho desvio do septo, nesta posição meu nariz não entope não me engasgo e evito ter uma apneia - aquela incrível sensação que nunca mais vou respirar.
Dito isto, esperaria que ela perguntasse:
- Mas é impossível você não se lembrar. Nem daquela básica?
- Bem, já que você perguntou... Espera aí instrutora, deixe-me pensar se ainda me lembro - sempre fazendo cara de carente e imbecil.
- Sim instrutora, estou lembrando, ajude-me, por favor... Bota sua perna esquerda, ali em cima da mezinha de cabeceira, com cuidado para não derrubar o elefante de porcelana ou afundar o calcanhar naquele pote de vaselina. Veja, estou começando a relembrar. Acho que vamos fazer até uma posição bem supimpa! Estica, e suspende a perna direita, em direção ao ventilador do teto e fica acompanhando o movimento da hélice. Isto, assim! Este movimento é muito bom também, para reforçar a musculatura interna das suas coxas. Agora “instrutorazinha” afasta mais a perna esquerda da tromba do elefante, ou tira aquela merda dali! Assim está bem, obrigado. Agora, com a sua mãozinha direita, segura aqui, isso bem aqui (ah, que saudade!). Aproveita que até agora, a sua mão esquerda ainda, está livre e tira este maldito cachorro de cima da cama.
Sentindo que eu estava um pouco ansioso e começando a me estressar, a instrutora decidiu dar uma verdadeira aula de sexologia, objetivando acalmar-me:
- Se eu ainda estou lembrada – disse-me com absoluto ar professoral - esta é a décima segunda posição do famoso sexólogo hindu Kama Lharga, em seu livro intitulado: “Dando a Buda”. Neste livro, ele ensina como viver feliz e saudável sem sair da cama. Foi publicado pela Editora Pau Brasil, e contem mais de duas mil e trezentas posições inéditas.
E continuou com extrema demonstração de eruditismo:
-Na referida obra, o autor propõe as mais incríveis técnicas de como transformar um básico homem sonolento em um verdadeiro macho caçador, carnívoro, uma verdadeira besta humana, autentico espada e, aquela mulher estressada, cansada e frígida numa autentica, mulher-aranha.
Pasmo com tanta sabedoria, e para demonstrar o mínimo de conhecimento sobre a vida de kama Lharga, contei-lhe que havia lido que o referido autor tinha sido expulso da china na década de 80, por ato inadvertido, e de terrorismo explicito, quando escolheu como título de sua palestra em Pequim, de: crescei-vos e multiplicai-vos. Acontece que nesta época, o governo daquela populosa nação, premiava com um radinho de pilha o casal que não tivesse nenhum filho. Li também, que era um excelente mestre da culinária, muito conhecido na Itália, pelo seu afrodisíaco “ravióli ao culo” e nos EUA pelo seu “hambúrguer gay”, com lingüiça de búfalo e dois ovos de Ema da Carolina do Norte. No Brasil, fracassou direto, pois tentou ensinar como se preparava um “lombo à baiana, pois, para nós, suas técnicas eram do século passado”. Um autêntico primata. Prova disto, é que levou, daqui, farto material didático para estudar e se atualizar para o resto da vida, pois o pleno domínio de todas as formas de sacanagem possíveis é nosso maior patrimônio. Retornando a nossa aula, e já que havíamos esgotado o tempo dedicado às teorias sobre a matéria, pedi a instrutora para que, antes dos “finalmentes”, ela me trouxesse uma caipirinha, fechasse a porta da suíte, abrisse o chuveiro, mudasse a fronha e o lençol da cama, apanhasse uma toalha de banho bem grande felpuda e cheirosa, tirasse meus chinelos do caminho, apagasse a luz da sala, acendendo a do quarto, desligasse o telefone, colocasse um sonzinho, soltasse os cabelos, ligasse o ar condicionado...
-Espera aí, companheiro! – interrompeu-me, histericamente, minha musa instrutora, que aos berros, analisou meu quadro patológico de forma bem objetiva:
- É por isso que você diz que não faz sexo com sua mulher há muito tempo. Afinal, nenhuma mulher conseguiria ficar acordada depois de cumprir todas estas suas ordens e executar tão broxantes tarefas. Você não gosta de fazer sexo. Ao invés de uma instrutora de artes sensuais, você tem que contratar é um administrador especialista em O&M, a tal de organização e métodos!
Um comentário:
Adorei a crônica.
Só não gostei de saber que todo homem mente deslavadamente e toda mulher finge. Será??? Tomara que pelo menos nessa frase você esteja errado senão, terei que pendurar meus sapatinhos de cristal. Eu pelo menos não finjo, portanto, nem todas as mulheres fingem meu caro.
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