COMIDA DE RUA.

                                                                                
                                                   


Solério era um homem com uma saúde que causava inveja aos mais sadios dos touros nos cios. Sua mulher a quem carinhosamente ele chamava de Butuca, achava que alguns hábitos alimentares de Solério eram exagerados, sempre os mesmos e para uma mulher vegetariana desde pequenininha, isto a incomodava. As discussões entre ambos eram constantes:
-Minha Butuca querida, quando você vai me dar aquela rabada deliciosa que só você sabe fazer ,com muito agrião e outras tentações?
-Olha Solério detesto isto e só em pensar fazer esta porcaria me dá náuseas.
-Poxa amor só porque amo de paixão esta comidinha e você fazia sempre, lembra?
-Passado Solério, passado! Naquela época você também me dava muitas coisas que hoje em dia ficaram difíceis...
-Como assim, minha Butuca? Tenho comprado tantas coisas pra você...
-Pra mim, cara pálida?


-É pra você mesmo! Panelas novas de Teflon, fogão novinho de seis bocas com acendimento automático, troquei a geladeira velha por aquele monumento tríplex de mais de dois metros de altura que cabe até eu lá dentro de pé e semana passada mesmo, comprei aquela fritadeira eletrônica que não usa óleo.
-Solério, você continua bem ordinário e muito cafajeste. Tinha melhorado, mas agora a recaída foi definitiva. Pega estes “presentes" e enfia no teu..
-Olha, não seja desbocada, ai, ai, ai. Use esta sua boquinha para fazer coisinhas gostosas em mim e não pra falar besteiras. Nunca mais você fez nada no meu corpinho sua malvada. No inicio do nosso relacionamento você era tão completa querida que eu me sentia um verdadeiro pirata dos sete mares.
-Verdade, naquela época sua embarcação ostentava um belo mastro no qual eu estendia minhas velas que os ventos do nosso amor estufavam.
-Nossa que linda Butuca, minha poeta maravilhosa dá um beijo.
-Sai de perto de mim Solério. Quer beijo? Então continue se insinuando para as minhas amigas.
-Suas amigas? Que é isso Butuca?
-Seu safado. A Mércia, a Paula e a Gertudes já me falaram.


-O que?
- Você vivia perguntando a todas se elas sabiam fazer cuscuz. 
-Euuuu?
- É bandido! Elas diziam que um dia fariam, brincando com você, pois são minhas amigas seu calhorda. E agora, ainda de forma devassa e sorrateira, quando as encontra, fica de piadinha e forçando a barra, dizendo que gosta tanto que só podia ser mesmo no plural . Seu pervertido, indecente, ingrato, safado...
-Butuca você enlouqueceu?
-Não Solério, apenas não sei mais cozinhar! Continue tentando comer os cuscuz e as rabadas na rua.Cretino!